terça-feira, 24 de agosto de 2010

Medo...

(Foto: Fabio Reis)

Medo... Esse sentimento de auto-proteção nos acompanha desde o nascimento. Nascemos com medo de sair do aconchegante ventre de nossas mães. Temos medo do primeiro passo, até nos levantarmos corajosamente para percorrer o mundo. Temos medo do primeiro dia na escola, do abandono dos nossos pais e dos olhos curiosos dos coleguinhas.

Crescemos e o medo segue conosco. Por vezes, aquele frio na barriga é uma mistura de ansiedade e medo. Medo do primeiro beijo. Medo do vestibular. Medo da entrevista de estágio. Medo do futuro incerto ao final da graduação. O desconhecido nos seduz e nos apavora. Uma nova teoria, um novo emprego, uma nova cidade, um novo país, um novo amor. Sim, os sentimentos também podem nos surpreender e causar medo. Medo de dizer "eu te amo". Medo de não ser correspondido. Medo de uma decepção. Medo da solidão. Medo de recomeçar.

Alguns dias nossos medos se revelam mais intensos. Em outros, o esquecemos e nos enchemos de coragem. O fato é que a única forma de superar o medo é enfrenta-lo. Eu acredito que o medo também é positivo, pois nos desafia... a crescer, a aprender coisas novas, a fazer novos amigos, a andar por novos caminhos, a viver um amor, a irmos mais longe para não nos conformarmos com uma vida limitada por nós mesmos. O abismo pode ser perigoso, mas a vista é recompensadora!

Miedo - Lenini e Julieta Venegas
http://www.youtube.com/watch?v=Bdpc_DFWhjI

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Cansei...

(Sala dos Espelhos - Palácio de Versalhes, França)

Alguns dias, eu canso. Nesse dias, eu sinto os meus objetivos distantes, quase inalcançáveis. As ideias não fluem. Os tempos não se encaixam. Insisto, persisto, as palavras se calam. Permaneço muda diante do monitor. Transpiro em busca de respostas, mas minha mente segue cheia de dúvidas. Tento mudar os meus olhos "viciados" na leitura da tese. Não tem jeito. Olhos viciados são assim, os deslizes do texto passam desapercebidos.

Drummond já dizia: "no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho..." Entretanto, nesses dias de cansaço, não é apenas uma pedra. As pequenas pedras brotam e parecem muralhas diante de mim. Quase me esqueço de contemplar as flores. Estou cansada, mas não posso parar. Apenas sento à margem do caminho para respirar. Penso na brisa do mar, no gosto de um Châteauneuf du Pape, nas palavras sussurradas ao ouvido. Olho algumas fotografias e sinto o calor do sol aquecendo meu rosto. Respiro fundo para encher os pulmões de esperança. Preciso ter fôlego. Mas confesso, alguns dias, eu canso.

Fotografia (Leoni e Léo Jaime)
http://www.youtube.com/watch?v=y0rWBzLiy7A

Hoje o mar faz onda feito criança
No balanço calmo a gente descansa
Nessas horas dorme longe a lembrança
De ser feliz
Quando a tarde toma a gente nos braços
Sopra um vento que dissolve o cansaço
É o avesso do esforço que eu faço
Pra ser feliz
O que vai ficar na fotografia
São os laços invisíveis que havia
As cores, figuras, motivos
O sol passando sobre os amigos
Histórias, bebidas, sorrisos
E afeto em frente ao mar.
Quando as sombras vão ficando compridas
Enchendo a casa de silêncio e preguiça
Nessas horas é que Deus deixa pistas
Pra eu ser feliz

domingo, 8 de agosto de 2010

Palavras e Números...


Nos últimos dias eu troquei as palavras pelos números! Mergulhei de cabeça no mundo da estatística para analisar os dados quantitativos da minha tese... Depois de alguns anos sem desenvolver estudos dessa natureza, a tese também me trouxe mais esse desafio. Acho que já me acostumei ao sentimento de ignorância diante de um novo campo de conhecimento. Parafraseando Sócrates, "só sei que nada sei..." Vivencie esse sentimento inúmeras vezes ao longo do doutorado. Quando ingressei no fascinante mundo do vinho, diante a diversidade de teorias sobre internacionalização e clusters, nas primeiras entrevistas na França. No quarto ano, quando eu finalmente comecei a me sentir "confortável" com meu tema de pesquisa, o desafio da estatística se colocou diante de mim. A vida sempre nos apresenta a oportunidade de aprender algo novo.

Então, eu que não fujo dos desafios, enfrentei os números. Médias, modas, medianas, variâncias e correlações, teste T, ANOVA, MANOVA, Análise Fatorial, Regressão Linear Múltipla. Mas depois de uma longa coleta de dados e de profundos estudos sobre estatística multivada, eu descobri com o teste de Kolmogorov-Smirnov (ou simplesmente K-S) que os meus dados não tem um "comportamento normal"... e não tem terapia que dê jeito. Nesse caso, o caminho mais coerente são os testes não-paramétricos. Depois de semanas estudando os testes paramétricos, o que fazer? Sem desespero. Novamente penso comigo mesma, "só sei que nada sei!"

Afinal, não posso mudar os números. A simplicidade da estatística não aceita meio termo: é sim ou não! Não deve existir espaço para "talvez". O cálculo pode ser complexo, mas resultado é simples, basta saber interpreta-lo. Para alguns pesquisadores, abordagens qualitativas e quantitativas são antagônicas. De um lado, a riqueza da subjetividade das opiniões expressas nas palavras dos entrevistados, dos documentos e na percepeção das observações. Por outro, a objetividade dos números que, por vezes, poderá ser generalizada para uma população inteira. Mas acho que não é bem assim. Podem me chamar de indecisa, mas eu sigo com os dois. Palavras e Números... Números e Palavras.... Na minha tese, serão complementares. Ambos me ajudarão a atingir os objetivos da minha pesquisa. Se a estatística faz os números falarem, as palavras dos entrevistados também são importantes (e muito) na interpretação dos meus resultados.

Só sei que nada sei... Esse tem sido o gelado caminho que percorro rumo à conclusão do meu doutorado! Apesar da neve e das baixas temperaturas do inverno gaúcho... Sigo construindo meu caminho a cada passo.