segunda-feira, 22 de junho de 2015

Fim do luto...

(Porto Alegre, junho de 2015)

Algumas décadas atrás, quando se perdia alguém muito próximo, a família vestia luto por seis meses. Durante esse período, o guarda-roupa e o semblante mudavam. Não se comemorava as datas especiais. Tratava-se de um período de reclusão e tristeza. Foi assim que decidi manter meu luto por exatos seis meses. Um período de reflexão e de encarar a dor e a decepção de frente. Não foi fácil, mas era necessário. Só assim, eu poderia seguir em frente em paz comigo mesma.

Passados seis meses, dia 13 de junho de 2015, eu acordei diferente. No espelho, eu vi um brilho misterioso no meu olhar. Fiz as contas e conclui: Chegou o fim do meu luto! Ainda receosa, coloquei um vestido preto, mas tinha ares de chapeuzinho vermelho. Me lancei na floresta com capa, boca e unhas vermelhas, sem saber o que poderia achar.

Observei o salão ainda vazio. Entre princesas e super heróis, eu degustava uma bebida e olhava ao meu redor. Tudo me parecia tão estranho. Além disso, naquela noite fui especialmente corajosa: entrei sozinha na festa à fantasia. Decidi me misturar na multidão para não me tornar uma presa tão fácil. Assim, eu poderia me camuflar perto das pequenas rodas de amigos. Talvez passaria despercebida… Talvez.

A festa era eclética. Sertanejo, Forró, Pop Rock, Funk. Por vezes, eu fechava os olhos e me deixar levar pelo som da música. Por outras, eu sentia os esbarrões das pessoas que pediam passagem. Entre os desconhecidos que passavam despercebidos, eu decidi aceitar o convite para dançar a dois. Me lembrei de como é gostoso dividir uma dança com alguém e me deixar conduzir. "Moreno, me convidou para dançar um xote, beijou o meu cabelo, cheirou o meu cangote, fez meu corpo inteiro se arrepiar…" Um, dois. Um, dois. Um, dois.

Sim! Meu luto estava terminando com aquela dança. Eu via uma luz no fim do túnel. E minha luz tinha a cor da esperança…