quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Silêncio...

Anjo da Notre Dame (Marseille)

Uma das coisas mais difíceis de lidar na minha tese (e na vida) é com o SILÊNCIO! Vou explicar. Estou na coleta de dados da tese com entrevistas em profundidade e questionários via web. Logo, eu mando um email, explicando sobre a pesquisa e peço: por favor, me receba para uma entrevista ou responda o meu questionário - rápido, prático e você ainda pode receber uma cópia dos resultados deste trabalho. Que maravilha!!! Sim... Infelizmente, não adianta muito...

Agora, pense comigo... O que vai levar alguém na França ajudar despretensiosamente uma completa desconhecida numa pesquisa acadêmica do Brasil, possivelmente sem retorno algum para o próprio empreendimento? Possivelmente, o cara não vai pensar: "Que legal, ela é brasileira e veio estudar vinhos na França! Vou ajudar essa moça." Bom, quando eu uso uma pessoa idônea como referência, ainda melhora, mas também nem sempre funciona!

Aí vem um segundo desafio: "cercar, sem pressionar!" O que também acontece às vezes nas aproximações amorosas, funciona no mundo acadêmico (risos). Você dá uma ligadinha, manda um novo email lembrando que você existe, mas, nunca, jamais, em nenhuma circunstância, o "potencial" entrevistado pode se sentir pressionado! A pressão estraga tudo.... Ele tem que se sentir a vontade e até um pouco culpado (Pobre menina, já ligou duas vezes, vou dar jeito de atendê-la!). Feito!! ;-)

Por outro lado, voltando às relações amorosas, a pena nunca funciona nesse campo. Ninguém fica com outra pessoa por pena (pode até tentar, mas o sofrimento é grande para ambos os lados). Na verdade, a pena é uma das piores motivações para iniciar ou manter uma relação. Acho que uma relação se constrõe com troca, bem-estar, conforto, espontaneidade, química, sintonia no olhar, afinidades e diferenças... Essas coisas todas e outras mais que fazem um bem enorme!

Mas voltando a minha tese, eu sigo aprendendo.... sobre vinhos, sobre estratégia, sobre clusters, sobre métodos de pesquisa e até sobre psicologia para aprender a lidar com o silêncio dos meus potenciais entrevistados. Mas não posso reclamar, eu gosto de aprender e para isso, muitas vezes é preciso ficar em silêncio!!
Afinal...
"Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer..."

sábado, 24 de outubro de 2009

Os meus extremos...

Foto: Fabio Reis

Este post não é bem meu... A crônica abaixo é uma das minhas preferidas de Ricardo Gondim, mas que descreve muito bem "os meus próprios extremos". Espero que gostem...
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Os meus extremos.
Ricardo Gondim

Minha vida é pêndulo. Oscilo entre o bem que desejo e o mal que rechaço. Sei que minhas sombras não são todas ruins e minhas luzes não são todas boas.
Minha vida é sístole e diástole, fluxo e refluxo. No vai-e-vem de minhas emoções choro e rio, fico e vou. Não receio mostrar covardia e hesito nas coragens.
Minha vida é dança na encosta do abismo. Prestes a despencar, no limite do perigo, corro o risco de tornar-me o fiasco do milênio. Mesmo assim, jogo e aposto atrevidamente. Mesmo sabendo que posso ferir-me, enfrento a corda bamba.
Minha vida é estrada esburacada. Nos solavancos das crateras que se abriram pelo caminho, tento aprumar-me. Não quero perder a direção. Vou por trilhas menos pavimentadas, mas vez por outra, cansado, prefiro cortar caminho.
Minha vida é simultaneidade de satisfação e fome. Os desejos cumpridos deixam sobra, um resíduo, de desprazer. Porém, por mais que as inadequações se mostrem onipresentes, celebro contente a minha sorte.
Minha vida é, ao mesmo tempo, vitrine e caverna. Convivo com plataformas e microfones. Falo para platéias. Sou fascinado por silêncios, por alcovas. Audaz com multidões e tímido com pessoas, opto por poucas palavras. Mas, dou a mão à palmatória, falo pelos cotovelos.
Minha vida é mescla de certeza e imprecisão. As dúvidas não me abalam, mas as certezas me confundem. Gosto de questionar e não tenho medo de ficar sem resposta. Os absolutos me incomodam, os dogmas me inquietam, as exatidões me deixam suspeitoso.
Minha vida é ameaça e bênção. Consciente dos ódios que já provoquei, vivo inseguro; sempre procurando redenção. Entusiasmado com a bênção que sou, alço o vôo da águia; sempre ousando novos desafios.
Minha vida é mistura de morbidez e sede de viver. Aguardo o apagar das luzes, reconheço a iminência do meu fim. Contudo, procuro desdobrar os minutos em “nano-frações” de felicidade.
Minha vida é preocupação despreocupada. Temo as contingências, mas o insólito me entusiasma . Repito aos quatro ventos que dores e alegrias entram na fabulosa receita desta existência, que o Criador projetou livre. Não há nada mais deslumbrante que a angústia, e nada mais surpreendente que a felicidade.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Chove chuva... chove sem parar!

Aurora Zen encharcada pela sua teimosia (Marseille/out de 2009)

Depois de alguns dias de frio... A chuva também chegou por aqui (e com muita força)! Ontem parecia que o mundo ia desabar em Marseille... Eu precisei ir ao médico e na saída decidi passar no supermercado, uns 15 minutos à pé. O problema é que estava chovendo e não havia ônibus direto para o supermercado - tão perto, tão distante. Como eu estava decidida... segui a pé, debaixo da chuva, que foi ficando cada vez mais forte ao longo do caminho! Minhas três camadas de roupa ficaram encharcadas!! Mas eu segui decidida, eu precisava chegar ao supermercado.

Depois eu fiquei pensando na minha teimosia: chegar ao supermercado apesar da chuva, se tornou uma questão de honra! Fiquei encharcada, porém honrada... hehehe Confesso, eu sou teimosa! Na verdade, olhando pelo lado positivo, eu diria persistente. Uma característica que me levou mais longe do que muita gente esperava, mas que às vezes me torna um pouco irracional. Por outro lado, quem é racional? Somos seres humanos, um emaranhado de sentimentos, desejos, medos. Podemos, por vezes, analisar com cautela as alternativas e as possíveis conseqüências das nossas decisões. Mas acho que as nossas motivações mais fortes virão sempre do coração!

Eu não faço doutorado para "ganhar dinheiro", talvez não tenha sido a opção mais racional e rentável. Eu segui essa carreira porque desde que me conheço como gente gostava de ser a "professora" nas brincadeiras infantis. Adoro ensinar, conhecer coisas novas, pesquisar alternativas, buscar soluções, compartilhar o que sei... Faço doutorado porque quero continuar fazendo essas coisas, e ainda vão me pagar para fazer o meu "trabalho". Sendo menos romântica, sei que esse trabalho também virá com muitas obrigações administrativas e burocráticas! Pois é, c´est la vie... Eu vim para a França, não apenas pela minha formação profissional, mas pela possibilidade de estar no "Velho Mundo" - descobrir uma nova cultura, novos sabores, um novo idioma, novos amigos.

E nessa minha caminhada, tem dias que chove!!! A pesquisa de campo não anda e eu me pergunto se sou capaz de me tornar PhD. Mas levanto no dia seguinte e continuo caminhando, penso comigo mesma: Apesar da chuva, eu vou chegar ao supermercado...

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Dias de frio... Noites com sol...

Vista do Vieux Port (Marseille/outubro de 2009)
Palais du Pharo (Marseille/outubro de 2009)

O outono (inverno) chegou à Provence!

Dias gelados, vento mistral sopra forte... A temperatura caiu, embora o pôr do sol esteja magnífico, eu quase congelo durante um passeio despretensioso pelo Jardin du Palais du Pharo. Tinha me esquecido desses dias frios aqui na França e só me resta tomar uma taça de vinho Bordeaux para aquecer meus lábios quase adormecidos pelo vento frio!

Marseille é assim... o inverno chega de repente, nem dá tempo de usar a chamosa coleção de meia estação! ;-) Para mim, já é inverno. Ninguém me convence que estamos no outono. O aquecedor elétrico ficou tanto tempo desligado que teima em não fucionar, estava desacostumado a trabalhar. Um final de semana gelado para tirar do fundo do armário o casaco mais quente... e saboarear uma deliciosa noite com queijos e vinho!

Em dias frios como esses é sempre possível desejar... sonhar... viver... Noites com sol!

Ouvi dizer que são milagres / Noites com sol
Mas hoje eu sei não são miragens / Noites com sol
Posso entender o que diz a rosa / Ao rouxinol
Peço um amor que me conceda/ Noites com sol

Onde só tem o breu / Vem me trazer o sol
Vem me trazer amor / Pode abrir a janela
Noites com sol e neblina / Deixa rolar nas retinas
Deixa entrar o sol

Livre será se não te prendem / Constelações
Então verás que não se vendem / Ilusões
Vem que eu estou tão só / Vamos fazer amor
Vem me trazer o sol / Vem me livrar do abandono
Meu coração não tem dono / Vem me aquecer nesse outono
Deixa o sol entrar

Pode abrir a janela / Noites com sol são mais belas
Certas canções são eternas
Deixa o sol entrar
http://www.youtube.com/watch?v=G1trlo_qqX8&feature=related

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Que sera, sera... What will be, will be!

Casamento do Rolf e da Brenda (abril/2006)... Ainda me lembro desse primeiro encontro graças ao icq! Deka e eu somos testemunhas.... Quanta coisa aconteceu, quanta coisa ainda vai acontecer ;-)

A festa terminou mais cedo para ela. Num mix de raiva, decepção e incerteza, ela me olha e diz:
- Aurora, eu nunca vou arranjar um cara decente!
A sentença é forte e sincera. Expressa uma incerteza verdadeira nos seus 21 anos! Quanta coisa pela frente minha amiga, quantos homens ainda te amarão, quantos homens você ainda vai amar... eu pensei comigo mesma.
Eu tento convencer minha querida amiga de que é preciso dar tempo ao tempo. Mas ela segue com a persistente idéia, quase uma fixação:
- Nenhum cara decente vai olhar para mim, eu nunca vou viver algo especial, além de uma pegação aleatória de balada.
Nesses momentos, só me resta lembrar (ainda que sem muito sucesso), que ela é uma jovem linda, inteligente, legal... e certamente, "quando ela menos esperar", vai conhecer alguém tão especial quanto ela. Eu também detestava ouvir isso, mas é fato! A gente sempre conhece alguém especial quando "menos espera". Talvez porque não crie tantas expectativas e enfim...

Pois é pessoal... esse é meu outro lado por aqui, um pouco de psicóloga (algo que eu adoro fazer: escutar e falar)! Talvez porque durante muito tempo eu também não percebi o meu valor. Na verdade, pouco tempo atrás me dei conta de como eu ainda pedia "desculpas" para tudo. Como se tivesse que pedir desculpas por existir, sem me dar conta de como eu sou especial e importante na vida de muita gente. Me dói ver o sofrimento da minha amiga, mas a boa notícia é que um dia a gente acorda!

As incertezas e os medos da minha amiga me fizeram voltar no tempo... nos longos anos da minha adolescência e da mesma confissão que ouvi de uma dezena de amigas nesse meio tempo. Eu mudei, ainda estou mudando... e estarei em mutações constantes até meu último dia de vida.
Mas hoje eu sei, como na canção de Doris Day (que escutei em dois filmes diferentes essa semana): "que será será, o futuro não é nosso para ver!" Não sei o que me aguarda, ainda tenho meus medos, controlo minhas ansiedades, mas aprendi a aproveitar melhor o belo caminho por onde passo, enquanto construo o meu futuro. ;-)

When I was just a little girl (Quando eu era apenas uma menina)
I asked my mother what will I be (eu perguntei para minha mãe o que eu seria)
Will I be pretty, will I be rich (eu seria bonita, eu seria rica)
Here's what she said to me (eis o que ela me disse)
Que sera, sera (o que será, será)
Whatever will be, will be (o que será, será)
The future's not ours to see (o futuro não é nosso para ver)
Que sera, sera (o que será, será)

http://www.youtube.com/watch?v=xZbKHDPPrrc

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Alguns dias...


Vinhos e frios num sábado de outono com um casal de amigos italianos (Marseille)...

Pôr do sol em Montpellier...

Alguns dias eu fico inexplicavelmente mais triste, meio desanimada! Sexta eu fui para Montpellier participar de uma reunião de pesquisadores do vinho. A reunião foi produtiva, fiz bons contatos, validei meu questionário com um pesquisador do setor, tive um feedback muito positivo, tudo certo! Mas... sei lá...

Talvez seja pelo cansaço físico por ter dormido duas horas e meia aquela noite para pegar o trem... Talvez um pouco de solidão aguçada pela expressão apaixonada do reencontro de diversos casais na estação de trem... Talvez ver o pôr do sol em Montpellier aumentou minha saudade... Talvez um pouco de tudo... Essas coisas não tem explicação!! Bom, mas são apenas alguns dias e eles passam rápido! Eles podem acontecer no Brasil, na França, na China ou em Marte... se bem, que Marte é muito quente e não tem praia, acho que lá, eu ficaria realmente deprimida... hehehehe

Esses dias a parte... O outono está chegando por aqui e eu adoro as paisagens dessa estação, sobretudo na França! O vento no meu rosto, as folhas secas pelo chão, um friozinho gostoso pela manhã... O outono pode ser uma estação meio triste, mas para mim, o outono lembra renovação! Por vezes, a gente precisa deixar cair algumas folhas para produzir novos e deliciosos frutos no próxima estação!

Nas ruas de outono
Os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar
As folhas pelo chão
Que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A paixão universal pelo futebol...


O Vélodrome!! Olympique de Marseille X Monaco pela Liga Francesa (outubro/2009)

Esquenta na casa da Elisabeth e do Fréd! Quitutes franceses e caipirinha brasileira...

Esse final de semana eu finalmente assisti um jogo do Olympique de Marseille (OM) no Estádio do Vélodrome!!! Ainda me lembro da minha primeira vez no estádio do grande Sport Club Internacional de Porto Alegre ... É uma emoção completamente diferente. A gente grita, torce, prende a respiração e vibra com o gol (e como vibra...).

Eu assisti o jogo do Olympique de Marseille contra o Monaco e, infelizmente, deu Monaco por 2 x 1. Confesso que o vermelho do Monaco me transportou para o Beira-Rio e por um instante, eu quase troquei de lado... risos! Na França eu torço para o Olympique de Marseille (azul e branco), mas minha paixão brasileira é vermelha!!! Sim, eu sou COLORADA! Glória do desporto nacional / Oh, Internacional / Que eu vivo a exaltar... (http://www.youtube.com/watch?v=He-NsYcEIOI&feature=related) Adorei essa versão do hino do Inter...

No final do jogo, o OM reagiu! Mesmo com vários chutes a gol... a bola insistia em não entrar para pelo menos empatar. Os torcedores já estavam meio decepcionados com a derrota para o Real Madrid na quarta e no domingo para o Monaco, sobretudo em casa! Foi demais para alguns torcedores Marseillaises! Vários abandonaram o Vélodrome no final de primeiro tempo, quando ainda estava 2 x 0. Quando a equipe mais precisava de apoio, abandonaram o "time do coração". Mas que paixão é essa???

Acho que um torcedor "de verdade" não abandona seu time diante de uma derrota iminente... A gente agüenta firme, inclusive todas as piadas dos colegas na segunda-feira. Não se pode ganhar todas as partidas! Na vida é assim também, às vezes a gente ganha, às vezes a gente perde... o importante é continuar no jogo, uma virada é sempre possível. Com a taça na mão ou na segunda divisão, eu sigo firme, afinal o campeonato está apenas começando! ;-)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Solidão que nada!!!


Uma joaninha pousou na minha mão no Cabo da Roca... A ponta mais ocidental do continente europeu (Portugal, maio/2009). Segundo Camões, "aqui... onde a terra se acaba e o mar começa!"
Gosto de ficar mais tarde na minha sala na Universidade... Todos se vão e eu fico aqui, admirando o céu rosado do fim de tarde atrás das montanhas que cercam o campus. Talvez por ser filha única, nunca tive problemas com a "solidão". Gosto de interação, de festa, de multidão... Mas gosto também de aproveitar bons momentos comigo mesma.

Quando a gente muda de país, ou mesmo de cidade, a fase de adaptação é sempre um bom momento para curtir essa solidão. Veja bem, não falo da solidão com a conotação negativa que muitas pessoas usam, falo sim de aprender a curtir e gostar da própria companhia e para isso, é preciso estar só.

Estar só não por obrigação ou falta de opção, mas por uma escolha própria. É claro que não acho que a gente vai ficar "sempre" sozinho... A companhia da família, dos amigos e de alguém mais especial fazem um bem danado!! Só defendo o argumento que, a gente só consegue ser feliz com alguém, quando aprender a ser feliz sozinho. Caso contrário, corremos o risco de colocar sobre o outro todo o peso da nossa felicidade (pobre pessoa). Acho que a felicidade numa relação a dois é uma troca gostosa: você é feliz fazendo o outro feliz e você só consegue fazer alguém feliz sendo feliz consigo mesmo.

Afinal...
Viver é bom
Nas curvas da estrada
Solidão, que nada
Viver é bom
Partida e chegada
Solidão, que nada
(Cazuza)