(Londres, junho de 2012)
Levei muitos anos para constatar a sabedoria da minha avó sobre os relacionamentos:
- A ignorância é uma benção! Ela costumava repetir nas nossas longas conversas sobre a vida.
Minha avó atribuía parte da felicidade de seu longo casamento à ignorância. Algumas coisas ela preferia não saber. O importante é que se sentia feliz sem investigar o roteiro das constantes viagens de trabalho do meu avô.
Na minha adolescência, eu costumava me revoltar com tal afirmação. Naquela fase, o meu relacionamento ideal tinha como base a completa transparência sobre passado, presente e futuro do outro. Eu acreditava que relacionamento sincero era compartilhar "tudo". Durante muitos anos, eu vivi a filosofia do "livro aberto" nas minhas relações (pobres moços com tantas informações desnecessárias a meu respeito)!
Já adulta, como pesquisadora social, eu desenvolvi uma curiosidade aguçada. Com alguma frequência me sentia tentada a questionar sobre fatos, datas e planos. Eu tentava me conter, mas, por fim, as perguntas brotavam. Rapidamente acessava meu banco de dados em busca de coerência lógica de datas e dos acontecimentos. Costumava me sentir muito desapontada quando percebia a minha inteligência sendo subestimada.
Nessas horas eu me lembrava das palavras da minha avó. Quem mandou perguntar? Por tudo isso, eu passei a acreditar que, na construção de uma relação a dois, nem tudo precisa ser dito. A sinceridade tem limites, pois pode trazer mais danos do que benefícios. Não defendo a mentira e a desonestidade, pelo contrário. Só acho que a transparência e confiança não implicam em contar todos os detalhes da vida, do jardim de infância aos planos de aposentadoria, passando por todos os relacionamentos traumáticos. A vida se compartilha aos poucos e com cautela, só o necessário em cada ocasião oportuna. Então, eu decidi seguir o conselho da minha sábia avó. Afinal, informação demais atrapalha.
Nenhum comentário:
Postar um comentário