sábado, 31 de dezembro de 2016

O fim...

(Sobrevoando Londres, novembro de 2016)

Ufa, o ano acabou! Para mim, 2016 foi marcado por momentos de muita felicidade e uma rotina de muita dor. Meu corpo chegou à exaustão. Ontem o médico me lembrou a função da dor no corpo humano: dar sinal de alguma coisa não está bem. O problema é que muitas vezes ignoramos esse sinal. Então, a dor deixou de ser um sinal para mim, passou a ser crônica e diária.

Nos últimos meses, eu enfrentei também uma crise de identidade. Já não podia mais dançar, nem caminhar e nem sentar por muito tempo. As viagens viraram sinônimo de precaução para um nova crise aguda. Já não me reconhecia no espelho sem a mesma vitalidade e energia. Os amigos dizem que mudei. Realmente, eu mudei. A dor crônica transforma qualquer pessoa. A gente se vê num dilema entre a autocomiseração e o resgate de uma força interna para continuar levando a vida com algum bom humor, ainda que um pouco mais ácido.

Nessa fase ruim, eu me considero muito abençoada por uma família amorosa, um parceiro de vida compreensivo, um trabalho que me realiza e uma fé que me sustenta nesse vale sombrio de citalgia, fibromialgia e degeneração discal. Nos últimos dias, eu já não consegui dopar o corpo para continuar as atividades. A única forma de contê-la foi o repouso. É como se eu estivesse no fundo do poço, mas sei que não estou sozinha. Médicos, fisioterapeutas, amigos e família me ajudam a escalar. De cima, eu começo a acreditar na mão de Alguém que se estende para eu sair desse buraco que me coloquei.

O ano acabou. Espero ter aprendido a lição ao longo desses meses de dor. Agora eu dou início a um longo e lento processo de mudança. Foram anos maltratando meu corpo. Ele vai precisar de tempo para ser curado. Preciso ser paciente… mais uma lição!






sábado, 1 de outubro de 2016

Dez anos depois...

Costa do Sauípe, setembro de 2016.

Dez anos depois do meu primeiro Encontro Nacional da ANPAD – Associação dos Programas de Pós-graduação em Administração – em Salvador. Naquela época, eu era uma jovem mestranda com muitas incertezas. Confusa e indecisa sobre meu futuro acadêmico, dividida entre a busca por um doutorado pleno no exterior ou uma experiência de doutorado sanduíche (isso se eu fosse aprovada na seleção para o doutorado). Caso ficasse no Brasil, seria em qual cidade - São Paulo, Salvador ou Porto Alegre? Qual seria o tema da minha tese? Quem seria meu orientador? Afinal, seriam quatro anos da minha vida me dedicando ao tema e com aquele orientador. Aos poucos, as dúvidas se tornaram escolhas: Brasil, Porto Alegre, internacionalização e clusters, vinho, doutorado sanduíche.

Depois disso, como na vida de todo mundo, outros dilemas foram surgindo: França ou Inglaterra? Sendo mais específica, sul da França ou norte da Inglaterra? Fiz minha escolha e comecei esse blog em 2009 na minha chegada ao sul da França. Entre greves e adaptações, eu fui trilhando meu caminho e coletando meus dados no delicioso mundo do vinho.

Três anos e oito meses depois eu me tornei doutora em Administração e me via novamente numa encruzilhada: Porto Alegre ou Nordeste? Universidade pública ou privada? Mais uma onda de decisões importantes, daquelas que definem boa parte da trajetória profissional. As oportunidades surgiram no Sul e eu decidi ficar em Porto Alegre. Depois, mais precisamente, eu escolhi ficar na UFRGS, nos corredores conhecidos e enfrentado o desafio de me tornar colega dos meus professores. Tempos difíceis para afirmar meus valores, trabalhar pesado e conquistar meu lugar ao sol.

Nessa trajetória, a vida pessoal foi ficando em segundo plano. Então eu decidi que era hora de casar. Infelizmente (ou felizmente), a vida nem sempre obedece ao nosso cronograma. A minha obstinação me levou a uma escolha precipitada. Tempos difíceis novamente... Pelo menos eu tinha um trabalho que eu amava e me joguei de cabeça para suprir as frustrações de um casamento infeliz. Uma nova encruzilhada: me contentar com um casamento de aparências e solitário ou romper para me dar uma segunda chance?

Felizmente, me dei uma segunda chance... Ainda tenho algumas marcas no corpo da sobrecarga de trabalho, de uma rotina super estressante e da somatização por uma vida pessoal frustrante – hipertensão, hérnias na lombar, úlceras no estômago e sobrepeso. Mas aos poucos, vou recuperando minha saúde física. Meu corpo exige mais atenção agora que já não tenho a mesma idade do meu primeiro EnANPAD. Passei por várias fases nesse último período até me perdoar e me sentir em paz.  Foi nesse momento de paz que encontrei o amor. O inusitado lantena verde em uma festa de 100 dias se tornou meu melhor amigo, meu amante, meu parceiro de vida e, talvez, em breve, o pai dos meus filhos.


Então, dez anos depois, poucos conhecem o meu caminho íngreme de mestranda à orientadora de doutorado, dos primeiros contatos internacionais com inglês sofrível a uma ampla rede de convênios e pesquisa com professores de vários países, de aluna à professora, que segue com coração de aluna. Comemoro nessa noite solitária meus dez anos de EnANPAD e releio os artigos da sessão que coordeno. Acho precisava desse tempo para refletir sobre o caminho já percorrido e sobre os meus novos dilemas e escolhas. Que venham mais dez edições do EnANPAD!

domingo, 15 de maio de 2016

Desiderata...



"Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa,
lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.
Tanto quanto possível sem humilhar-se,
mantenha-se em harmonia com todos que o cercam.
Fale a sua verdade, clara e mansamente.
Escute a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história.
Evite as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito.
Não se compare aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores a você:
isso o tornaria superficial e amargo.
Viva intensamente os seus ideais e o que você já conseguiu realizar.
Mantenha o interesse no seu trabalho,
por mais humilde que seja,
ele é um verdadeiro tesouro na continua mudança dos tempos.
Seja prudente em tudo o que fizer, porque o mundo está cheio de armadilhas.
Mas não fique cego para o bem que sempre existe.
Em toda parte, a vida está cheia de heroísmo.
Seja você mesmo.
Sobretudo, não simule afeição e não transforme o amor numa brincadeira,
pois, no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva.
Aceite, com carinho, o conselho dos mais velhos
e seja compreensivo com os impulsos inovadores da juventude.
Cultive a força do espírito e você estará preparado
para enfrentar as surpresas da sorte adversa.
Não se desespere com perigos imaginários:
muitos temores têm sua origem no cansaço e na solidão.
Ao lado de uma sadia disciplina conserve,
para consigo mesmo, uma imensa bondade.
Você é filho do universo, irmão das estrelas e árvores,
você merece estar aqui e, mesmo se você não pode perceber,
a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.
Procure, pois, estar em paz com Deus,
seja qual for o nome que você lhe der.
No meio do seu trabalho e nas aspirações, na fatigante jornada pela vida,
conserve, no mais profundo do seu ser, a harmonia e a paz.
Acima de toda mesquinhez, falsidade e desengano,
o mundo ainda é bonito.
Caminhe com cuidado, faça tudo para ser feliz
e partilhe com os outros a sua felicidade".

 DESIDERATA - Do Latim Desideratu: Aquilo que se deseja, aspiração.
Este texto foi encontrado na velha Igreja de Saint Paul, Baltimore, Estou enviando esta antiga inscrição
encontrada em uma
Igreja de Beltimore -EEUU e traduzida por Jehud
Bortolozzi - o mais interessante é que foi datada de 1.684 (1692).