(Sobrevoando Londres, novembro de 2016)
Ufa, o ano acabou! Para mim, 2016 foi marcado por momentos de muita felicidade e uma rotina de muita dor. Meu corpo chegou à exaustão. Ontem o médico me lembrou a função da dor no corpo humano: dar sinal de alguma coisa não está bem. O problema é que muitas vezes ignoramos esse sinal. Então, a dor deixou de ser um sinal para mim, passou a ser crônica e diária.
Nos últimos meses, eu enfrentei também uma crise de identidade. Já não podia mais dançar, nem caminhar e nem sentar por muito tempo. As viagens viraram sinônimo de precaução para um nova crise aguda. Já não me reconhecia no espelho sem a mesma vitalidade e energia. Os amigos dizem que mudei. Realmente, eu mudei. A dor crônica transforma qualquer pessoa. A gente se vê num dilema entre a autocomiseração e o resgate de uma força interna para continuar levando a vida com algum bom humor, ainda que um pouco mais ácido.
Nessa fase ruim, eu me considero muito abençoada por uma família amorosa, um parceiro de vida compreensivo, um trabalho que me realiza e uma fé que me sustenta nesse vale sombrio de citalgia, fibromialgia e degeneração discal. Nos últimos dias, eu já não consegui dopar o corpo para continuar as atividades. A única forma de contê-la foi o repouso. É como se eu estivesse no fundo do poço, mas sei que não estou sozinha. Médicos, fisioterapeutas, amigos e família me ajudam a escalar. De cima, eu começo a acreditar na mão de Alguém que se estende para eu sair desse buraco que me coloquei.
O ano acabou. Espero ter aprendido a lição ao longo desses meses de dor. Agora eu dou início a um longo e lento processo de mudança. Foram anos maltratando meu corpo. Ele vai precisar de tempo para ser curado. Preciso ser paciente… mais uma lição!