Costa do Sauípe, setembro de 2016.
Dez anos depois do meu primeiro Encontro Nacional da ANPAD –
Associação dos Programas de Pós-graduação em Administração – em Salvador.
Naquela época, eu era uma jovem mestranda com muitas incertezas. Confusa e
indecisa sobre meu futuro acadêmico, dividida entre a busca por um doutorado
pleno no exterior ou uma experiência de doutorado sanduíche (isso se eu fosse
aprovada na seleção para o doutorado). Caso ficasse no Brasil, seria em qual
cidade - São Paulo, Salvador ou Porto Alegre? Qual seria o tema da minha tese? Quem
seria meu orientador? Afinal, seriam quatro anos da minha vida me dedicando ao
tema e com aquele orientador. Aos poucos, as dúvidas se tornaram escolhas:
Brasil, Porto Alegre, internacionalização e clusters, vinho, doutorado sanduíche.
Depois disso, como na vida de todo mundo, outros dilemas
foram surgindo: França ou Inglaterra? Sendo mais específica, sul da França ou
norte da Inglaterra? Fiz minha escolha e comecei esse blog em 2009 na minha
chegada ao sul da França. Entre greves e adaptações, eu fui trilhando meu
caminho e coletando meus dados no delicioso mundo do vinho.
Três anos e oito meses depois eu me tornei doutora em
Administração e me via novamente numa
encruzilhada: Porto Alegre ou Nordeste? Universidade pública ou privada? Mais
uma onda de decisões importantes, daquelas que definem boa parte da trajetória
profissional. As oportunidades surgiram no Sul e eu decidi ficar em Porto
Alegre. Depois, mais precisamente, eu escolhi ficar na UFRGS, nos corredores
conhecidos e enfrentado o desafio de me tornar colega dos meus professores.
Tempos difíceis para afirmar meus valores, trabalhar pesado e conquistar meu
lugar ao sol.
Nessa trajetória, a vida pessoal foi ficando em segundo
plano. Então eu decidi que era hora de casar. Infelizmente (ou felizmente), a
vida nem sempre obedece ao nosso cronograma. A minha obstinação me levou a uma
escolha precipitada. Tempos difíceis novamente... Pelo menos eu tinha um
trabalho que eu amava e me joguei de cabeça para suprir as frustrações de um casamento
infeliz. Uma nova encruzilhada: me contentar com um casamento de aparências e
solitário ou romper para me dar uma segunda chance?
Felizmente, me dei uma segunda chance... Ainda tenho algumas
marcas no corpo da sobrecarga de trabalho, de uma rotina super estressante e da
somatização por uma vida pessoal frustrante – hipertensão, hérnias na lombar,
úlceras no estômago e sobrepeso. Mas aos poucos, vou recuperando minha
saúde física. Meu corpo exige mais atenção agora que já não tenho a mesma idade
do meu primeiro EnANPAD. Passei por várias fases nesse último período até me
perdoar e me sentir em paz. Foi nesse
momento de paz que encontrei o amor. O inusitado lantena verde em uma festa de
100 dias se tornou meu melhor amigo, meu amante, meu parceiro de vida e, talvez,
em breve, o pai dos meus filhos.
Então, dez anos depois, poucos conhecem o meu caminho
íngreme de mestranda à orientadora de doutorado, dos primeiros contatos
internacionais com inglês sofrível a uma ampla rede de convênios e pesquisa com
professores de vários países, de aluna à professora, que segue com coração de
aluna. Comemoro nessa noite solitária meus dez anos de EnANPAD e releio os artigos da sessão que coordeno. Acho precisava
desse tempo para refletir sobre o caminho já percorrido e sobre os meus novos
dilemas e escolhas. Que venham mais dez edições do EnANPAD!
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