sábado, 1 de outubro de 2016

Dez anos depois...

Costa do Sauípe, setembro de 2016.

Dez anos depois do meu primeiro Encontro Nacional da ANPAD – Associação dos Programas de Pós-graduação em Administração – em Salvador. Naquela época, eu era uma jovem mestranda com muitas incertezas. Confusa e indecisa sobre meu futuro acadêmico, dividida entre a busca por um doutorado pleno no exterior ou uma experiência de doutorado sanduíche (isso se eu fosse aprovada na seleção para o doutorado). Caso ficasse no Brasil, seria em qual cidade - São Paulo, Salvador ou Porto Alegre? Qual seria o tema da minha tese? Quem seria meu orientador? Afinal, seriam quatro anos da minha vida me dedicando ao tema e com aquele orientador. Aos poucos, as dúvidas se tornaram escolhas: Brasil, Porto Alegre, internacionalização e clusters, vinho, doutorado sanduíche.

Depois disso, como na vida de todo mundo, outros dilemas foram surgindo: França ou Inglaterra? Sendo mais específica, sul da França ou norte da Inglaterra? Fiz minha escolha e comecei esse blog em 2009 na minha chegada ao sul da França. Entre greves e adaptações, eu fui trilhando meu caminho e coletando meus dados no delicioso mundo do vinho.

Três anos e oito meses depois eu me tornei doutora em Administração e me via novamente numa encruzilhada: Porto Alegre ou Nordeste? Universidade pública ou privada? Mais uma onda de decisões importantes, daquelas que definem boa parte da trajetória profissional. As oportunidades surgiram no Sul e eu decidi ficar em Porto Alegre. Depois, mais precisamente, eu escolhi ficar na UFRGS, nos corredores conhecidos e enfrentado o desafio de me tornar colega dos meus professores. Tempos difíceis para afirmar meus valores, trabalhar pesado e conquistar meu lugar ao sol.

Nessa trajetória, a vida pessoal foi ficando em segundo plano. Então eu decidi que era hora de casar. Infelizmente (ou felizmente), a vida nem sempre obedece ao nosso cronograma. A minha obstinação me levou a uma escolha precipitada. Tempos difíceis novamente... Pelo menos eu tinha um trabalho que eu amava e me joguei de cabeça para suprir as frustrações de um casamento infeliz. Uma nova encruzilhada: me contentar com um casamento de aparências e solitário ou romper para me dar uma segunda chance?

Felizmente, me dei uma segunda chance... Ainda tenho algumas marcas no corpo da sobrecarga de trabalho, de uma rotina super estressante e da somatização por uma vida pessoal frustrante – hipertensão, hérnias na lombar, úlceras no estômago e sobrepeso. Mas aos poucos, vou recuperando minha saúde física. Meu corpo exige mais atenção agora que já não tenho a mesma idade do meu primeiro EnANPAD. Passei por várias fases nesse último período até me perdoar e me sentir em paz.  Foi nesse momento de paz que encontrei o amor. O inusitado lantena verde em uma festa de 100 dias se tornou meu melhor amigo, meu amante, meu parceiro de vida e, talvez, em breve, o pai dos meus filhos.


Então, dez anos depois, poucos conhecem o meu caminho íngreme de mestranda à orientadora de doutorado, dos primeiros contatos internacionais com inglês sofrível a uma ampla rede de convênios e pesquisa com professores de vários países, de aluna à professora, que segue com coração de aluna. Comemoro nessa noite solitária meus dez anos de EnANPAD e releio os artigos da sessão que coordeno. Acho precisava desse tempo para refletir sobre o caminho já percorrido e sobre os meus novos dilemas e escolhas. Que venham mais dez edições do EnANPAD!