sábado, 15 de outubro de 2011

Sozinha...

(Epopéia Italiana, Bento Gonçalves, out 2010)

Confesso que já passei um tempo constrangida por ser uma "mulher sozinha". A pressão social é intensa. As pessoas partem do pressuposto que seria improvável uma quase balzaquiana, de boa aparência e algum nível cultural estar solteira. É comum, nas conversas sociais e profissionais, me atribuírem um "companheiro" imaginário. Essas atribuições ficaram ainda mais frequentes depois que voltei as minhas atividades profissionais após a conclusão do doutorado.

Por isso, nas primeiras vezes, eu me constrangia. Fazia questão de deixar claro que a minha solidão era uma opção. Afinal, já fui noiva duas vezes (ambas por pura teimosia). A primeira vez era muito jovem e achava que meu amor mudaria o mundo. Insisti por dois longos anos, até perder completamente as forças. Na segunda, mais experiente, me deixei levar pelas expectativas de terceiros e não respeitei meus próprios sentimentos. Naquele momento, eu achava que estar solteira era um problema a ser solucionado e decidi que iria me casar. Felizmente, percebi o erro que estava cometendo com uma decisão impulsiva. 

Entretanto, nos últimos meses eu comecei a me sentir mais confortável com meu estado civil. Agora percebo que as pessoas se constrangem por mim com o equívoco. No fundo, isso tudo me diverte. Gentilmente sorrio e esclareço o meu "status". Não, eu não me casei, não tenho filhos, nem sobrinhos. Guardo pra mim a certeza que meu coração sempre amou intensamente. Não sei amar de outra forma, nem sei jogar com a indiferença para conseguir o que desejo. Sou péssima em jogos de sedução, mas não posso reclamar. Carrego comigo marcas secretas de amores bem vividos e outros não correspondidos. Poucas pessoas conhecem os golpes profundos que já recebi. Também sei que fui responsável por algumas feridas mal cicatrizadas em pessoas que mereciam meu amor, infelizmente (ou felizmente) os sentimentos não obedecem a regras racionais. Como Fernando Sabino, tive que aprender a fazer da queda um passo de dança... e sigo dançando sozinha e feliz.

De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer a interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
(Fernando Sabino)

2 comentários:

  1. Vale aquele velho clichê: "antes só do que mal acompanhada". O que importa é ser feliz, saber viver com a própria companhia. As pessoas não se satisfazem em cuidar da própria vida. Sempre me perguntavam quando sairia o casamento. Depois de casada a chatice da vez é ser constantemente questionada sobre o primeiro filho e sei que assim que eu estiver grávida irão me encher a paciência perguntando quando terei o segundo e etc. Fazes muito bem,amiga! :) Beijão,cheio de saudades!!!

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  2. Morena,
    Adoro teu modo de se afirmar e ser exatamente quem você é... isso é autenticidade.
    Quanto a teu status de "mulher sozinha", eu daria tudo para ter uma máquina do tempo e mudar esse status.

    Beijoss

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