segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O que os homens querem?

(Curitiba, novembro de 2011)

Enquanto eu aguardava o meu vôo para Porto Alegre, dei uma volta na livraria do aeroporto. Confesso que não esperava encontrar os clássicos da literatura brasileira, mas fiquei impressionada com a quantidade de títulos sobre relacionamentos, sobretudo aqueles que tratavam das expectativas dos homens no relacionamento. Eram muitas opções, algumas pouco criativas: O que os homens pensam? Por que os homens casam com mulheres poderosas? Como agarrar um marido? Como agradar seu homem na cama? etc, etc, etc. Os títulos eram os mais diversos sobre o mesmo assunto: afinal, o que os homens querem na relação? Sem dúvida, todos eram potenciais "best sellers" entre o público feminino. Mas por quê?

Por que nos tornamos tão independentes profissionalmente, mas excessivamente preocupadas em "agradar os homens"? Deixo claro que não estou falando que não devemos valorizar a relação, só acho que não devíamos viver em função dela. Percebo que muitas mulheres, na ânsia de agradar, esquecem de si. Buscam auxílio em livros com fórmulas mágicas e anulam a própria vontade. Algumas vezes, ocorre uma mutação da personalidade em nome da relação. Mudam a rotina, abandonam os hobbies, deletam os velhos amigos da agenda. Depois de uma cansativa jornada para agradar o outro, se descobrem desapontadas com tantas renúncias em nome de um amor que foi sufocado durante esse processo.

Por isso, eu me revolto com esse tipo de literatura de aeroporto. Não acredito em fórmula secreta e leio com total descrença as reportagens da Revista Nova. Acredito que gente só consegue fazer alguém feliz, sendo feliz. Pra mim, o amor não pode fazer parte de uma lista de coisas para fazer. Só consigo acreditar no amor espontâneo e com o doce gosto da liberdade de ser o que se é.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Qual o tamanho do seu mundo?

(Castelo de Edinburgh, Escócia, novembro de 2011)

Um dos pubs mais clássicos em Edimburgo se chama "World´s End". Como boa parte das cidades medievais da Europa, a capital da Escócia também foi murada. Os muros da cidade representavam o limite de um espaço seguro e familiar para seus habitantes. Então, para muitos, esse limite era o fim do mundo.

Os séculos se passaram. Cientistas provaram que nosso planeta é redondo e calcularam a superfície terrestre. Entretanto, embora o planeta tenha o mesmo tamanho em superfície, cada um estabelece o tamanho o seu próprio mundo. Para alguns, o mundo se restringe a sua terra natal. Seja por medo ou por comodismo, não se arriscam a conhecer outras paisagens. Outros tem a curiosidade de ir um pouco além. Querem conhecer lugares diferentes e apreciar novos sabores. Há ainda aqueles, como eu, para os quais cruzar os muros da cidade e arriscar-se num mundo grande torna-se uma necessidade. Gostam da beleza do desconhecido. Não costumam andar pelos mesmos caminhos, ir nos mesmos restaurantes e pedir o mesmo prato. Preferem a surpresa à comodidade do conhecido.

Eu sou assim: curiosa, inquieta, inconformada, exigente. Sigo querendo mais do que me é oferecido. Essa talvez seja minha maior virtude e também meu maior defeito. No fundo, quero apenas viver num mundo grande e sem fronteiras. E você? Quer ultrapassar os muros da cidade comigo? Talvez não seja seguro, mas pode ser muito divertido.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Gestos universais...


Enquanto aguardo o tempo passar sentada em um charmoso café de nome Rouge, eu aprecio um delicado vinho branco e observo o comportamento das pessoas ao meu redor. Em solo estrangeiro, as palavras nem sempre fazem sentido. São tantos idiomas. Então, decido me ater às atitudes.

Minha primeira constatação é que, de fato, as palavras correspondem a uma parte muito pequena da nossa comunicação. Por sinal, as palavras podem nos enganar, sobretudo quando queremos acreditar nelas. As palavras podem também esconder os sentimentos ou explicitar uma falsa intimidade. Mas os gestos, as atitudes, o olhar expressam muito mais do que palavras!

Observo, com um pouco mais de atenção, os casais que passam numa tranquila tarde de terça-feira. Um chinês agarra a mão da chinesinha com ternura, o inglês que desliza suas mãos na cintura da sua companheira, um egípcio raivoso com o atraso da namorada, uma moça chora diante de um jovem de sorriso largo. Não consigo decifrar todos os gestos, mas as cenas do cotidiano estimulam minha imaginação.

Penso na ternura, no desejo, na fúria e nas lágrimas de dor ou alegria. A taça de vinho terminou e uma música ressoar na minha mente: No Woman, No Cry / se Deus quiser! / Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Com os pés doloridos de uma longa caminhada, eu decido ser paciente comigo mesma. Só me resta sorrir e deixar meus pés flutuarem quando não consigo tocar o chão. Peço outra taça de vinho à espera daquele olhar que aqueça corpo e alma numa tarde fria de outono.