Enquanto aguardo o tempo passar sentada em um charmoso café de nome Rouge, eu aprecio um delicado vinho branco e observo o comportamento das pessoas ao meu redor. Em solo estrangeiro, as palavras nem sempre fazem sentido. São tantos idiomas. Então, decido me ater às atitudes.
Minha primeira constatação é que, de fato, as palavras correspondem a uma parte muito pequena da nossa comunicação. Por sinal, as palavras podem nos enganar, sobretudo quando queremos acreditar nelas. As palavras podem também esconder os sentimentos ou explicitar uma falsa intimidade. Mas os gestos, as atitudes, o olhar expressam muito mais do que palavras!
Observo, com um pouco mais de atenção, os casais que passam numa tranquila tarde de terça-feira. Um chinês agarra a mão da chinesinha com ternura, o inglês que desliza suas mãos na cintura da sua companheira, um egípcio raivoso com o atraso da namorada, uma moça chora diante de um jovem de sorriso largo. Não consigo decifrar todos os gestos, mas as cenas do cotidiano estimulam minha imaginação.
Penso na ternura, no desejo, na fúria e nas lágrimas de dor ou alegria. A taça de vinho terminou e uma música ressoar na minha mente: No Woman, No Cry / se Deus quiser! / Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Com os pés doloridos de uma longa caminhada, eu decido ser paciente comigo mesma. Só me resta sorrir e deixar meus pés flutuarem quando não consigo tocar o chão. Peço outra taça de vinho à espera daquele olhar que aqueça corpo e alma numa tarde fria de outono.
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