terça-feira, 23 de outubro de 2012

Se for cair...


(Boston, agosto de 2012)


Em algumas situações não é possível evitar a queda. Por isso, eu acredito que mais importante não é manter-se em pé, mas saber cair quando for inevitável.
Se for cair...
Não adianta enrijecer o corpo.
Não adianta lutar contra a lei da gravidade.
Não adianta lamentar o passo em falso.
Não adianta querer voltar no tempo.
Se for cair, deite logo.
Respire fundo e dê um tempo.
Logo você estará em pé novamente.
Um pouco mais atento, um pouco mais experiente.
O chão também pode ser uma oportunidade para ver a vida de outro ângulo.
Se for cair, relaxe.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Paraíso...

(Fernando de Noronha, out/2012)


O avião sobrevoou lentamente o arquipélago. O piloto estava acostumado com as interjeições dos passageiros. Era um misto de surpresa, alegria e expectativas pelos breves dias naquele paraíso. Sem dúvida, Fernando de Noronha é um dos lugares mais bonitos entre os quais estive.
Entretanto, entrar no paraíso tem seu custo. Uma taxa de estadia, outra para visitação de alguns santuários da vida marinha, um tempo de fila para resolver a burocracia e pronto! Em solo, os passageiros se dividem para as pousadas rústicas que a ilha oferece. Os lugares de luxo são raros e muito caros para os turistas de classe média. Se destinam a nossa micro elite que pode pagar cerca de um mil reais por uma única diária. Mas quem precisa de luxo no paraíso?! Um bom banho, uma cama limpa e um repelente para insetos dão conta do recado. A felicidade é simples, talvez por isso é tão complicado ser feliz.
Além dos inegáveis encantos naturais, cantados em verso e prosa por todos os lados, eu me apeguei aos detalhes da vida naquela ilha. A vida não é fácil em Fernando de Noronha. As ladeiras da vila dos remédios, o custo elevado de todos os itens básicos, o acesso remoto às praias mais belas, o número limitado de moradores que tira a privacidade até dos turistas, a difícil conexão à internet. Os homens ainda passam por uma dificuldade adicional com uma população feminina muito restrita. Dizem que a proporção é de sete homens para cada mulher. Para os turistas sedentários, as dores musculares causadas pelas longas caminhadas e das noites de forró são intensas.
Ainda assim, algumas características são comuns entre os nativos: a simplicidade no sorriso, o orgulho de pertencer àquele terra e o prazer de guiar os turistas nos pontos mais belos do arquipélago. Foi assim que eu me encantei por Noronha, pelas suas praias, pela sua alegria, pela sua simplicidade e pela sua gente. Até as dores musculares são esquecidas diante daquele mar transparente.
Durante quatro dias em Noronha, eu consegui o que precisava há muito tempo: pausei a minha vida! Do alto do Mirante do Boldró ou há 13 metros de profundidade no mar é impossível não ver as coisas de outra forma. Eu precisei pausar para captar a beleza daquele lugar. Pausando, eu descobri a minha necessidade de reduzir o ritmo de trabalho e dos meus sentimentos. Surgiram algumas resoluções: novos projetos serão avaliados com cautela, a lista de atividades deverá ser finalizada para outras serem iniciadas, a fila não vai andar até tudo estar no seu devido lugar e eu terei que exercitar o "não" para os outros e para mim mesma.
Por último, eu decidi fazer desta pausa uma rotina. De tempos em tempos, vou descobrir um novo lugar para pausar – sem internet, sem lista de atividades, sem deadlines, sem dieta. O mundo seguirá girando, mas por breves dias vou me permitir uma pausa para respirar profundamente.

"Estou a dois passos do paraíso
 / Não sei se vou voltar
/ Estou a dois passos do paraíso /
 Talvez eu fique, eu fique por lá
 / Estou a dois passos do paraíso 
/ Não sei porque que eu fui dizer / bye bye 
/ Bye bye, baby, bye bye" (Banda Blitz)