segunda-feira, 6 de novembro de 2017

A divagação


Entre as muitas coisas que abondei nos últimos tempos, sem dúvida, as postagens no meu blog é uma das que me faz mais falta. No início desse blog, meu objetivo era compartilhar minhas experiências com meus pais (que não usavam Orkut) e com amigos mais próximos! Quanta coisa mudou... Já são 10 anos desde o início do meu doutorado.

Me considero muito abençoada nesse processo de formação e na vida. Encontrei pessoas muito generosas e acolhedoras nesse caminho, as quais sempre terão um lugar no meu coração. A lista seria muito longa para compartilhar, mas tenho certeza que, cada uma delas que ler esse texto, saberá que está na lista. Todos vocês, de alguma forma, contribuíram para que eu estivesse aqui. Mas afinal, onde eu estou agora?

Estou sentada no restaurante do hotel em Nancy, norte da França. Uma cidade pequena, com um leve ar de Alemanha e clima gelado nessa época do ano. Entre uma taça de Bourgogne e uma mordida no Camenbert, eu comecei a divagar nos meus pensamentos e decidi retomar meu blog. Entretanto, eu vou reposicionar a temática para a minha vida de professora, minhas experiências, reflexões e viagens.

Nessa viagem, eu comecei no Rio de Janeiro, passei por Uppsala, Paris e cheguei em Nancy. Se estou aqui é porque ainda conto com pessoas generosas ao meu lado, que seguram as pontas na minha ausência. Sigo muito grata! Me viro entre as atividades no Parque Tecnológico da Universidade e na extensão com start-ups, na internacionalização da EA/UFRGS, na orientação de alunos da graduação ao doutorado, na pesquisa e nos artigos e, especialmente, na sala de aula. Por sinal, por favor, me perdoem a demora, o e-mail sem resposta não se trata indiferença. Queridos alunos, vocês serão sempre a melhor parte do meu trabalho.

Então é isso... Eu devia estar respondendo e-mails, corrigindo trabalhos ou revisando artigos. Mas qual seria a graça da vida sem deliciosos momentos de divagação com uma taça de vinho? A quem interessa possa: I'm back! Aguardem post semanais (ou quinzenais) das minhas aventuras como professora e eterna aprendiz.

Momento P.S. Eu te amo: Mozão, impossível não lembrar de nós dois por aqui. Desde aquele pedido de casamento na Torre Eiffel dois anos atrás, foram 10 países, muito amor, cumplicidade e uma grande parceria nos bons e maus momentos. Te amo!

sábado, 31 de dezembro de 2016

O fim...

(Sobrevoando Londres, novembro de 2016)

Ufa, o ano acabou! Para mim, 2016 foi marcado por momentos de muita felicidade e uma rotina de muita dor. Meu corpo chegou à exaustão. Ontem o médico me lembrou a função da dor no corpo humano: dar sinal de alguma coisa não está bem. O problema é que muitas vezes ignoramos esse sinal. Então, a dor deixou de ser um sinal para mim, passou a ser crônica e diária.

Nos últimos meses, eu enfrentei também uma crise de identidade. Já não podia mais dançar, nem caminhar e nem sentar por muito tempo. As viagens viraram sinônimo de precaução para um nova crise aguda. Já não me reconhecia no espelho sem a mesma vitalidade e energia. Os amigos dizem que mudei. Realmente, eu mudei. A dor crônica transforma qualquer pessoa. A gente se vê num dilema entre a autocomiseração e o resgate de uma força interna para continuar levando a vida com algum bom humor, ainda que um pouco mais ácido.

Nessa fase ruim, eu me considero muito abençoada por uma família amorosa, um parceiro de vida compreensivo, um trabalho que me realiza e uma fé que me sustenta nesse vale sombrio de citalgia, fibromialgia e degeneração discal. Nos últimos dias, eu já não consegui dopar o corpo para continuar as atividades. A única forma de contê-la foi o repouso. É como se eu estivesse no fundo do poço, mas sei que não estou sozinha. Médicos, fisioterapeutas, amigos e família me ajudam a escalar. De cima, eu começo a acreditar na mão de Alguém que se estende para eu sair desse buraco que me coloquei.

O ano acabou. Espero ter aprendido a lição ao longo desses meses de dor. Agora eu dou início a um longo e lento processo de mudança. Foram anos maltratando meu corpo. Ele vai precisar de tempo para ser curado. Preciso ser paciente… mais uma lição!






sábado, 1 de outubro de 2016

Dez anos depois...

Costa do Sauípe, setembro de 2016.

Dez anos depois do meu primeiro Encontro Nacional da ANPAD – Associação dos Programas de Pós-graduação em Administração – em Salvador. Naquela época, eu era uma jovem mestranda com muitas incertezas. Confusa e indecisa sobre meu futuro acadêmico, dividida entre a busca por um doutorado pleno no exterior ou uma experiência de doutorado sanduíche (isso se eu fosse aprovada na seleção para o doutorado). Caso ficasse no Brasil, seria em qual cidade - São Paulo, Salvador ou Porto Alegre? Qual seria o tema da minha tese? Quem seria meu orientador? Afinal, seriam quatro anos da minha vida me dedicando ao tema e com aquele orientador. Aos poucos, as dúvidas se tornaram escolhas: Brasil, Porto Alegre, internacionalização e clusters, vinho, doutorado sanduíche.

Depois disso, como na vida de todo mundo, outros dilemas foram surgindo: França ou Inglaterra? Sendo mais específica, sul da França ou norte da Inglaterra? Fiz minha escolha e comecei esse blog em 2009 na minha chegada ao sul da França. Entre greves e adaptações, eu fui trilhando meu caminho e coletando meus dados no delicioso mundo do vinho.

Três anos e oito meses depois eu me tornei doutora em Administração e me via novamente numa encruzilhada: Porto Alegre ou Nordeste? Universidade pública ou privada? Mais uma onda de decisões importantes, daquelas que definem boa parte da trajetória profissional. As oportunidades surgiram no Sul e eu decidi ficar em Porto Alegre. Depois, mais precisamente, eu escolhi ficar na UFRGS, nos corredores conhecidos e enfrentado o desafio de me tornar colega dos meus professores. Tempos difíceis para afirmar meus valores, trabalhar pesado e conquistar meu lugar ao sol.

Nessa trajetória, a vida pessoal foi ficando em segundo plano. Então eu decidi que era hora de casar. Infelizmente (ou felizmente), a vida nem sempre obedece ao nosso cronograma. A minha obstinação me levou a uma escolha precipitada. Tempos difíceis novamente... Pelo menos eu tinha um trabalho que eu amava e me joguei de cabeça para suprir as frustrações de um casamento infeliz. Uma nova encruzilhada: me contentar com um casamento de aparências e solitário ou romper para me dar uma segunda chance?

Felizmente, me dei uma segunda chance... Ainda tenho algumas marcas no corpo da sobrecarga de trabalho, de uma rotina super estressante e da somatização por uma vida pessoal frustrante – hipertensão, hérnias na lombar, úlceras no estômago e sobrepeso. Mas aos poucos, vou recuperando minha saúde física. Meu corpo exige mais atenção agora que já não tenho a mesma idade do meu primeiro EnANPAD. Passei por várias fases nesse último período até me perdoar e me sentir em paz.  Foi nesse momento de paz que encontrei o amor. O inusitado lantena verde em uma festa de 100 dias se tornou meu melhor amigo, meu amante, meu parceiro de vida e, talvez, em breve, o pai dos meus filhos.


Então, dez anos depois, poucos conhecem o meu caminho íngreme de mestranda à orientadora de doutorado, dos primeiros contatos internacionais com inglês sofrível a uma ampla rede de convênios e pesquisa com professores de vários países, de aluna à professora, que segue com coração de aluna. Comemoro nessa noite solitária meus dez anos de EnANPAD e releio os artigos da sessão que coordeno. Acho precisava desse tempo para refletir sobre o caminho já percorrido e sobre os meus novos dilemas e escolhas. Que venham mais dez edições do EnANPAD!

domingo, 15 de maio de 2016

Desiderata...



"Siga tranquilamente entre a inquietude e a pressa,
lembrando-se de que há sempre paz no silêncio.
Tanto quanto possível sem humilhar-se,
mantenha-se em harmonia com todos que o cercam.
Fale a sua verdade, clara e mansamente.
Escute a verdade dos outros, pois eles também têm a sua própria história.
Evite as pessoas agitadas e agressivas: elas afligem o nosso espírito.
Não se compare aos demais, olhando as pessoas como superiores ou inferiores a você:
isso o tornaria superficial e amargo.
Viva intensamente os seus ideais e o que você já conseguiu realizar.
Mantenha o interesse no seu trabalho,
por mais humilde que seja,
ele é um verdadeiro tesouro na continua mudança dos tempos.
Seja prudente em tudo o que fizer, porque o mundo está cheio de armadilhas.
Mas não fique cego para o bem que sempre existe.
Em toda parte, a vida está cheia de heroísmo.
Seja você mesmo.
Sobretudo, não simule afeição e não transforme o amor numa brincadeira,
pois, no meio de tanta aridez, ele é perene como a relva.
Aceite, com carinho, o conselho dos mais velhos
e seja compreensivo com os impulsos inovadores da juventude.
Cultive a força do espírito e você estará preparado
para enfrentar as surpresas da sorte adversa.
Não se desespere com perigos imaginários:
muitos temores têm sua origem no cansaço e na solidão.
Ao lado de uma sadia disciplina conserve,
para consigo mesmo, uma imensa bondade.
Você é filho do universo, irmão das estrelas e árvores,
você merece estar aqui e, mesmo se você não pode perceber,
a terra e o universo vão cumprindo o seu destino.
Procure, pois, estar em paz com Deus,
seja qual for o nome que você lhe der.
No meio do seu trabalho e nas aspirações, na fatigante jornada pela vida,
conserve, no mais profundo do seu ser, a harmonia e a paz.
Acima de toda mesquinhez, falsidade e desengano,
o mundo ainda é bonito.
Caminhe com cuidado, faça tudo para ser feliz
e partilhe com os outros a sua felicidade".

 DESIDERATA - Do Latim Desideratu: Aquilo que se deseja, aspiração.
Este texto foi encontrado na velha Igreja de Saint Paul, Baltimore, Estou enviando esta antiga inscrição
encontrada em uma
Igreja de Beltimore -EEUU e traduzida por Jehud
Bortolozzi - o mais interessante é que foi datada de 1.684 (1692). 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Degustação...

(Porto Alegre, agosto de 2015)

Chega uma hora que as degustações de muitos vinhos já não têm o mesmo valor. Você sabe o que gosta, o que quer, o que deseja… No meu caso, um vinho aromático, complexo, encorpado, com um bom "bouquet" e um gosto persistente na boca. Aquele vinho marcante, difícil de esquece pelas notas de madeira amaciadas pelo tempo.

Eu posso estar em Porto Alegre ou em Seoul, minhas asas me levaram longe o suficiente para ter certeza da minha preferência. Devo confessar que descobrir o que eu realmente aprecio levou algum tempo. Foram anos de autoconhecimento e degustações, além de alguns meses de terapia.

O meu paladar foi sendo refinado com o tempo, com as viagens e com as experiências da vida. Foram várias rodadas com vinhos de diversas nacionalidades em diferentes países. Foram também diferentes "variedades" e estilos - espumantes, tintos e brancos; leves ou encorpados; apropriados para tardes de verão ou noites de inverno.

Devo dizer que a diversidade me ajudou muito a desenvolver um paladar mais aguçado. Apesar das 12 horas de fuso, eu sei o que desejo… Aguço minhas habilidades: visão, olfato, paladar. Minha mente e coração percorrem milhares de quilômetros. Eu trocaria um "Château Margaux" e toda a minha pequena adega por uma noite degustando aquele vinho encorpado, apetitoso nos lábios, descoberto numa noite despretensiosa em busca de um novo prazer para o paladar.

Pouco sei sobre o futuro, mas espero me embriagar muitas vezes com este vinho ao longo da vida. Não se trata de um vinho comum. Estou viciada em um vinho de safra especial, apreciado apenas por um paladar refinado. Então, eu desejo é que você também descubra o seu vinho, aquele que preencha a boca com complexidade e prazer.

Boa sorte!




terça-feira, 21 de julho de 2015

O mar levou...

(Céu da Praia da Pipa, julho de 2015)

De tempos em tempos é preciso pausar, desapegar-se dos caminhos conhecidos e deixar-se surpreender por uma nova paisagem. Então, nas minhas férias, eu decidi mergulhar em praias desconhecidas. Sem saber, ao certo, o que me aguardava.

Foi assim que, num desses mergulhos, o mar levou meus óculos. Por sinal, ele parecia destinado a não me pertencer. Desde janeiro, eles desapareceram muitas vezes, foram extraviados uma meia dúzia de vezes e eram encontrados em alguma gaveta dias depois. Gerava em mim a alegria de ter de volta algo que já considerava perdido. Foi assim até aquela onda mais forte tragar meus belos óculos. Entretanto, o mar não levou apenas meus óculos

O mar levou uma fase de dias nublados e noites frias.

Também levou o estresse da agenda apertada por três compromissos: praia, refeições e rede!

Depois de navegar por tantos mares turbulentos, o mar me levou para um mar calmo.

Depois de explorar tantos destinos, agora eu prefiro renovar as energias conhecendo cada detalhe da mesma praia. 

Acho que estou mudando. Tenho um bom número de cidades e praias visitadas. Agora, conhecer em profundidade me interessa mais do que conhecer com variedade.

As minhas férias (quase perfeitas) no Nordeste estão no fim. Agora começo a aguardar ansiosa o retorno para o meu porto ainda mais alegre.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Permissão...


(Mosaicos de Bolonha, março de 2015)

Ele não pediu permissão. Puxou a cadeira e sentou do meu lado. Percorreu minha história e escutou atentamente algumas confissões. Me compartilhou seus segredos.

Ele não pediu permissão. Me tirou para dançar e acertamos o compasso. Segurou firme na minha cintura e me fez flutuar.

Ele não pediu permissão. Circulamos pelas mesmas ruas e admiramos a mesma paisagem. Muitas coisas não precisaram ser ditas. As coincidências falaram por nós.

Ele não pediu permissão. Fez amizade com o porteiro e entrou na minha casa. Ocupou seu espaço na mesa e no meu guarda-roupa.

Ele não pediu permissão. Eu não resisti e me entreguei. Ele não hesitou. Tornou-se meu amigo, meu parceiro, meu amor.