terça-feira, 27 de julho de 2010

Se...

Nem todas as peças se encaixam... (Vinisud 2010)

Parecia um começo de semana normal de inverno. Dia gelado, mas com céu azul. Bom sinal. Quase sem voz, uma leve tosse me lembrava dos últimos dias com gripe forte. Peguei o carro, levei minha mãe ao médico e dei uma passada na Universidade. Achei uma boa vaga na frente da UFRGS, mas em local proibido. Dei a volta na quadra e estacionei corretamente. Satisfeita por fazer o "certo", em milésimos de segundos comecei a pensar em todas as atividades que me aguardavam. Seria um dia cheio, e foi...

Ao sair do carro, um sujeito se dizendo armado exigiu a chave do carro. Não reagi e entreguei as chaves. Enquanto ele ligava o veículo, no instinto de doutoranda, "resgatei" a mochila do notebook com a carteira de documentos do banco traseiro do carro e os arquivos da tese. O bandido se foi e eu segui, pensado no "se"...

Se eu tivesse dormido mais um pouco. Se eu tivesse estacionado na primeira vaga em local proibido. Se eu tivesse ido de ônibus como sempre. Se eu tivesse visto o homem suspeito antes de estacionar. Se eu decidisse ir na biblioteca da Economia ao invés de ir na Escola de Administração. Se eu simplesmente não estivesse ali às 11 horas do dia 26 de julho de 2010... mas era tarde. O leite estava derramado. Não adiantava pensar no "se..." Nesses momentos, sempre prefiro pensar no "E agora?" Tomei as providências necessárias e me recuperei do choque.

Possibilidades de momentos passados não mudam fatos presentes. E agora? Ocorrência registrada, seguradora comunicada. Agora é aguardar e seguir. Amanhã vou para a Universidade com o velho Alvorada-Protásio e todos os arquivos num pendrive! A vida segue... A tese não pode parar.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Mude a fonte...

Foto: Fábio Reis

- Mude a fonte, amiga!
- Como assim?
- Depois que comecei a escrever a tese em Times New Roman, meu trabalho começou a render mais! Quem sabe se você trocar a fonte, também comece a escrever mais e melhor...

O conselho não fazia sentido algum, mas afinal poucas coisas na vida fazem algum sentido. Concluímos nossa longa conversa e eu fiquei pensando no conselho da minha amiga. Então, decidi mudar a fonte!!!
Entretanto, essa mudança não foi apenas de Arial para Times, tentei mudar a minha perspectiva em relação aos últimos acontecimentos. Olhar menos para o que falta e lembrar do longo caminho já percorrido. Esquecer um pouco das incertezas e pensar em todas as possibilidades que podem se abrir diante de mim nos próximos meses. Deletar, mesmo que por alguns momentos, minhas expectativas pessimistas e pensar no meu cenário mais otimista.

Mudar a fonte me remeteu ao "laissez faire, laissez passer" dos franceses, à beleza do mar mediterrâneo e ao barco solitário que meus olhos curiosos seguiam do alto da Notre Dame de Marseille. Mudar a fonte me fez lembrar da imprevisibilidade da vida e dos caminhos que meus pés inquietos já percorreram. Assim, mudar a fonte também me lembrou das decisões tomadas: cursar um doutorado na UFRGS, um tema de pesquisa, um projeto, um orientador, uma teoria, a mudança no método de pesquisa, um lugar para estágio no exterior. Por vezes, quase me esqueço de quão difícil foi tomar algumas dessas decisões.

Agora vou tomar mais uma decisão. Vou mudar a fonte. Provavelmente esse pequeno detalhe não vá tornar minha tese melhor ou pior, mas me fez refletir sobre as "mudanças" e as "escolhas". Escolher é parte da nossa existência e feliz daquele que é livre para escolher!

<< Todos os caminhos trilham pra gente se ver... Todas as trilhas caminham pra gente se achar...>>
http://www.youtube.com/watch?v=Gd3nijAdEP8&feature=related

sábado, 3 de julho de 2010

Regresso...

Pés no caminho (Valência, dezembro de 2009)


Quase seis anos atrás ele veio morar conosco. Ocupou o quarto de hóspedes, que hoje tem a sua cara. Ainda me lembro da falta que sentia dos amigos e da família nos primeiros meses. Embora soubesse que a solidão seria parte do processo, foram tempos difíceis. Estava em família, mas não na sua família. Fazia novos amigos, mas havia deixado aqueles com quem compartilhou toda a vida até então. Precisou crescer, se adaptar, amadurecer. Para mim, tornou-se o irmão que não tive. Companheiro nos mais variados programas: cinema, teatro, lanches eventuais nos finais de semana, formaturas e casamentos.

O tempo passou e ele fez da nossa casa, a sua casa também. Criou vínculos e os novos amigos se tornaram cada vez mais próximos, quase irmãos. Se apaixonou algumas vezes, sofreu com os desencontros da vida... mas finalmente encontrou alguém para amar. Então, já era o momento de voltar. Precisava cumprir a promessa de que sua estada em terras distantes seria apenas uma etapa da sua formação profissional.

No fundo, ele já não sabia mais se queria voltar. Seu coração não era mais do norte, nem do sul. Sentia-se com duas casas. Estando no norte, sentiria saudades do sul. Estando no sul, sentiria saudades do norte. Mas decidiu partir para cumprir sua promessa  e fez uma nova promessa: "Eu volto pra te buscar!" Carro lotado, coração apertado, ele partiu para cruzar o Brasil na esperança de um novo eldorado. Nessas contradições da vida, regressou com a promessa de voltar...

"A vida não é brincadeira, amigo
A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Há sempre uma mulher à sua espera
Com os olhos cheios de carinho
E as mãos cheias de perdão
Ponha um pouco de amor na sua vida
Como no seu samba..."
Composição: Vinicius de Moraes / Baden Powell