quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Ousadia sem elegância...

(Céu de Olinda, fevereiro de 2013)


O carnaval estava estampado no sorriso das pessoas, na pintura do ônibus lotado, nas fantasias, nas máscaras e por todos os lados da cidade. Os bonecões, as troças mistas, os bloquinhos e os foliões aglomeravam uma massa ávida por diversão. Da tradição dos maracatus do Recife Antigo às ladeiras de Olinda. Com a objetividade de uma pesquisadora treinada, eu observava tudo atentamente do alto da Praça da Sé ou da Torre Malakoff!

O caminho do carnaval pernambucado era colorido e alegre, mas também tortuoso e íngreme. Havia momentos em que os pés não tocavam o chão. O corpo era arrastado pela força dos blocos. Nessa multidão, as pessoas assumiam outra personalidade. Acho que talvez revelassem o que escondiam ao longo do ano pressionadas pelas normas e regras sociais. Na euforia carnavalesca, se permitiam trocar de gênero, criar personagens, buscar novas sensações, roubar beijos, etc.

É proibido proibir, afinal é carnaval. Nesse afã, muitos perdiam os medos, os critérios e a elegância. Mas quem se importava? A mocinha de roupa branca atacou o tímido rapaz indeciso. O pirata não se apresentava: beijava primeiro e conversava depois (quando conversava). Não interessava o nome, a idade ou a profissão. A abordagem era quase sempre rápida e ousada. No final do dia, tratava-se apenas de mais uma boca na contabilidade dos muitos beijos dados ou roubados.

Entre o caos de encontros, reencontros e desencontros, havia também histórias de amor no carnaval. Amores antigos se reencontravam no escuro das vielas. Casais que faziam do beijo despretencioso o primeiro passo. Amigos se reuniam ao som de um ritmo qualquer. Adultos, crianças e idosos invadiam as ruas com uma energia incomum.

Então, o carnaval termina. A fantasia é delicamente guardada. O corpo se recupera e surgem algumas cicatrizes da atividade intensa e inconsequente. As moças recolocam o salto e os rapazes retomam as estratégias de aproximação e sedução. Tudo volta ao normal (ou quase tudo)!

“Olinda! quero cantar a ti essa canção
Teus coqueirais, o teu sol, o teu mar
Faz vibrar meu coração, de amor a sonhar
Em Olinda sem igual
Salve o teu Carnaval!”
(Hino do Elefante, 1952)