domingo, 27 de março de 2011

Comprometimento num mundo líquido?


É impossível pensar sobre comprometimento sem levar em conta a fragilidade das relações humanas na sociedade pós-moderna. Segundo Bauman, vivemos num mundo líquido, em que as relações se estabelecem com extraordinária fluidez. Elas se movem e escorrem sem muitos obstáculos. Buscamos entender “a misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos" (BAUMAN, 2004, p. 8).

Queremos amar e nos sentir amados, mantendo nosso espaço, individualidade e liberdade. Queremos  compartilhar parte da nossa existência, mas também queremos relações leves, na qual cada um respeite as escolhas do outro. Nos dividimos entre a busca de um amor tranquilo (com sabor de fruta mordida) e a insegurança dos constantes movimentos imprevisíveis das relações humanas. Queremos a sintonia perfeita vivendo num contexto cada vez mais complexo.

É preciso aceitar que não há garantias no amor. O chão pode se mover a qualquer instante.  O amor chega e se despede sem aviso prévio. O que aconteceu com o amor declarado em verso e prosa? Escorreu entre os dedos pelos mais diversos motivos. Por isso, eu descobri que não se deve "investir" em uma relação. O amor não é um certificado de investimento bancário. O melhor é abrir a alma generosamente, sem esperar nada em troca. 

Também cheguei a conclusão que o comprometimento não se define pelo status nas redes sociais, pelo título utilizado nas apresentações formais ou por um pedido oficial para uma "relação mais séria". O comprometimento se percebe pelo interesse, pelo companheirismo, pela compreensão e pelo respeito. Comprometimento não são palavras e promessas, são atitudes. Mas assim como o amor, não se pode exigir ou esperar o comprometimento de ninguém. Seria como bater insistentemente na porta de uma casa vazia. O amor e o comprometimento são dádivas das relações humanas e só terão valor se forem espontâneos.

Eu grito por liberdade, você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade e você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos, você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro e você se satisfaz com metade
Sempre a meta de uma seta no alvo, mas o alvo na certa não te espera.
Então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada.
Quando se parte rumo ao nada.
(Paulinho Moska - A seta e o alvo)

sábado, 19 de março de 2011

E os planos?!


As ondas tsunamis estão cada mais vez frequentes pelo mundo. Temos visto uma potência mundial sucumbir diante de terromotos, uma tsunami e ameaças de explosões nucleares. Há um mês, tudo esta em paz no Japão. Acostumados aos tremores decorrentes da localização no globo terrestre, os japoneses foram habilidosos ao construir seus prédios e os reatores estavam duplamente protegidos. O país estava tecnologicamente preparado, mas não para tantas catástrofes ao mesmo tempo.

Os últimos acontecimentos abalaram não apenas o Japão. É quase inacreditável para o mundo o que está ocorrendo naquela pequena ilha. De um lado, a situação do país nos sensibiliza - milhares de mortos, problemas de abastecimento, destruição e radiação nuclear. Por outro, é impossível não pensar na brevidade da vida e na nossa pequenez diante da força da natureza. Tantos sonhos, tantos planos, tantas vidas levadas por uma onda gigante!

Tudo isso me fez refletir sobre o meu hábito de planejar a vida. O tempo todo estou elaborando planos pequenos ou grandes para realizar meus objetivos. Entretanto, em diversas situações me deparei com uma completa mudança de planos. Essas mudanças testaram toda a minha capacidade de adaptação e ainda assim eu continuei planejando.

Contudo, depois dos últimos fatos no Japão, eu acho que preciso rever meus planos. Eliminar alguns, reformular outros. Talvez eu esteja iniciando uma fase mais imediatista da minha vida. Talvez eu tenha me convencido de que é melhor não ter mais planos. Esse sim seria um enorme desafio para uma doutora em administração tão habituada a seus planos de curto, médio e longo prazo - rasgar o planejamento estratégico e viver a risca a filosofia "como se fosse o último dia..." Mas como vou realizar tão façanha? Acho que preciso de um plano! ;-)

ROSA DE HIROXIMA (Vinícuis de Moraes)
Pensem nas crianças mudas, telapáticas
Pensem nas meninas cegas, inexatas
Pensem nas mulheres rotas, alteradas
Pensem nas feridas como rosas cálidas
Mas so não se esqueça da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroxima, rosa hereditária
A rosa radioativa estúpida e inválida
A rosa com cirrose a anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume sem rosa, sem nada
Sem cor sem perfume sem rosa, sem nada

terça-feira, 15 de março de 2011

Acaso?

(Praia do Cardoso, SC)

O que eu faço para amenizar a saudades daqueles que partiram sem eu querer dizer "adeus"? Daqueles que foram tirados do meu convívio por circunstâncias naturais da vida, mas que inevitavelmente permanecem presentes na minha memória?

Entre o novo e o velho mundo, eu conheci muitas pessoas maravilhosas, que me ensinaram tanto. Pessoas que deixaram saudades e que nesse final de verão no hemisfério sul fazem meu coração pulsar num ritmo melancólico.

Nesses últimos dias eu tenho lamentado a privação da companhia de tantas pessoas maravilhosas que fizeram parte da minha vida. Pessoas que, ainda hoje, fazem parte de mim. Sim, elas estão presentes nas histórias que conto, nas fotografias que vejo, nas boas lembranças de um momento da minha vida, nos aromas e sabores que aprecio. Seguiram comigo durante um trecho do meu caminho... sorrindo ou chorando... um dia enfrentamos uma encruzilhada e tivemos que seguir caminhos diferentes.

Eu tento resignar-me com o destino, alegrar-me com as recordações e com a companhia dos amigos do presente e, quando possível, consolar-me com planos de encontros futuros. Contudo, alguns dias eu não quero consolo. Então, me sento quieta e solitária. Admiro o pôr do sol e derramo uma lágrima por aqueles que partiram e não podem mais admirar o pôr do sol ao meu lado!

"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "
(Antoine de Saint-Exupéry)

domingo, 13 de março de 2011

Não vire as costas para o mar...

(Farol de Santa Marta, SC, Brasil)

Nem samba, nem frevo, nem axê. Meu carnaval foi ao som das ondas do mar. O cenário perfeito para descansar corpo e alma. A alegria dos pequenos e simples prazeres da vida. Brisa suave, balanço de rede, pés na areia, banho de mar, companhia dos amigos, deliciosos frutos do mar bem preparados, gargalhadas em plena madrugada. Momentos que fazem esquecer qualquer preocupação. Eu estava em paz...

Os dias de carnaval também me ensinaram uma lição: "nunca vire as costas para o mar!" Uma pequena onda pode arrebentar com mais força do que esperamos. Águas aparentemente tranquilas podem trazer com uma sequência de ondas fortes e derrubar até os banhistas mais experientes. Por vezes, é possível retomar o equilíbrio rapidamente. Por vezes, o mar é mais forte e precisamos de uma mão amiga que nos ajude a levantar. Por vezes, eu encaro de frente. Por vezes, mergulho fundo e deixo as águas me levarem.

Olhos atentos, pés firmes, pulmão preparado. Assim como a vida, o mar sempre nos surpreende. Então, não vire as costas para o mar, nem para a vida!