sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Eu te desejo...

(Rumo a 2012..)

Eu te desejo...
Uma vida longa e saudável
Dias de paz e brisa do mar
Cheiro de terra molhada
Uma parada para assistir um belo pôr-do-sol
Bons amigos ao redor da mesa
Uma taça de um bom vinho nas noites de inverno
Outra de espumante para os fins de tarde no verão
Um sorriso largo para encarar as dificuldades
Um coração generoso para com o próximo
Mãos afetuosas para acalentar a tristeza
Força diante dos desafios e desapontamentos
Bom humor nos tropeços da vida
Paciência e persistência para ultrapassar os obstáculos
Uma consciência tranquila e noites bem dormidas
Um amor para aquecer o coração
Novos sonhos para seguir em frente
Talvez sejam muitos desejos...
Então, desejo apenas que sejas feliz!

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Coragem...

(Arthur's Seat, novembro de 2011)

Fazia algum tempo que não nos encontrávamos. A correia do dia-a-dia. As muitas viagens a trabalho. As mudanças dos últimos meses. Ainda assim, vez que outra passávamos algum tempo ao telefone para diminuir a distância. Nos nossos poucos encontros, o tempo voava e não dava tempo de nos atualizarmos de todas as pequenas novidades. Foi assim que mantivemos uma intimidade singular depois de tantas transformações. Mas confesso que, naquele dia, ela estava diferente ao telefone. Precisava me encontrar com uma certa urgência. Queria desabafar e me escutar para se sentir menos solitária. Depois de uma longa conversa, tudo o que consegui dizer foi:

- É preciso coragem para aceitar o fim do amor!

Essa frase ressoou nas paredes da sala do meu apartamento e no meu próprio coração. De fato, é preciso coragem para quem vê o amor escoando entre os dedos. Sofre quem deixa. Sofre quem é deixado. O fim do amor nunca é indolor. Por isso, eu repeti... é preciso coragem para escalar essa montanha, minha amiga.

Sim, é preciso coragem para aceitar que não se trata de "mal me quer ou bem me quer..." A gente pode continuar querendo o bem da outra pessoa, a companhia e a amizade, mas já não é um amor eros. É preciso coragem para machucar quem ainda se quer bem, pois é melhor deixar o outro livre para viver um novo amor, do que mantê-lo preso e mal amado. Também é preciso coragem para aceitar o fim e ver o ser amado partir. Coragem para não se contentar com as migalhas de afeto do que já foi um grande amor. Presentes, ligações, e-mails ou telegramas perdem o valor. Não adianta insistir. Você ainda ama, mas amar sozinho não basta. Então, é preciso coragem para não ligar, não escrever, enxugar as lágrimas e esquecer mesmo sem se conformar com o fim.

Naquela noite chuvosa, eu olhei com ternura a minha amiga, quase como quem se vê num espelho. Beije-lhe a testa e a abracei com um coração despedaçado. Continuei a minha frase, como se ela estivesse lendo os meus pensamentos:
- Hoje pode parecer impossível, mas é preciso coragem para, ao menos, começar a tentar querer esquecer...

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

E as novidades?!

(Londres, outono de 2011)

O telefone toca e você me pergunta: 
- E as novidades?!
- De fato, nada de extraordinário me aconteceu nos últimos dias.
Entre o fim da primavera e o início do verão...
Entre raios de sol e tempestades...
Entre dias leves e pesados...
Entre os altos e baixos hormonais de qualquer mulher...
Eu sigo com o mesmo sorriso no rosto e cabelos desalinhados.
Cabeça erguida para disfarçar o último tropeço.
Tento respeitar o ritmo da vida, nem sempre no compasso que desejo.
Tive aulas de dança para aprender a me deixar conduzir.
Revi alguns bons amigos e encontrei novos pelo caminho.
Celebrei as vitórias da semana com um bom vinho.
Feliz por não estar mais sedentária, sinto as dores musculares da troca de treino.
Amanhã começo uma nova dieta por 17 dias para me preparar para o biquíni.
Ajudei meu pai a montar um sofá-cama no escritório no final de semana.
Ainda checo minha caixa de entrada à espera de uma resposta.
Talvez eu devesse seguir o teu conselho.
Por isso, eu comecei a planejar a próxima viagem.
Enquanto admiro o pôr do sol, eu deito na velha rede para pensar no ano que quase termina.
Recordo alguns bons momentos como os flash backs dos seriados.
Tantas coisas boas me aconteceram...
Tantas lágrimas desnecessárias...
Tantos destinos e possibilidades...
Aproveitando o último mês do ano, decidi entrar num momento de auto-avaliação: Fechada para balanço!
Bom, além de todos esses pequenos eventos do meu cotidiano, acho que não tenho novidades.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O que os homens querem?

(Curitiba, novembro de 2011)

Enquanto eu aguardava o meu vôo para Porto Alegre, dei uma volta na livraria do aeroporto. Confesso que não esperava encontrar os clássicos da literatura brasileira, mas fiquei impressionada com a quantidade de títulos sobre relacionamentos, sobretudo aqueles que tratavam das expectativas dos homens no relacionamento. Eram muitas opções, algumas pouco criativas: O que os homens pensam? Por que os homens casam com mulheres poderosas? Como agarrar um marido? Como agradar seu homem na cama? etc, etc, etc. Os títulos eram os mais diversos sobre o mesmo assunto: afinal, o que os homens querem na relação? Sem dúvida, todos eram potenciais "best sellers" entre o público feminino. Mas por quê?

Por que nos tornamos tão independentes profissionalmente, mas excessivamente preocupadas em "agradar os homens"? Deixo claro que não estou falando que não devemos valorizar a relação, só acho que não devíamos viver em função dela. Percebo que muitas mulheres, na ânsia de agradar, esquecem de si. Buscam auxílio em livros com fórmulas mágicas e anulam a própria vontade. Algumas vezes, ocorre uma mutação da personalidade em nome da relação. Mudam a rotina, abandonam os hobbies, deletam os velhos amigos da agenda. Depois de uma cansativa jornada para agradar o outro, se descobrem desapontadas com tantas renúncias em nome de um amor que foi sufocado durante esse processo.

Por isso, eu me revolto com esse tipo de literatura de aeroporto. Não acredito em fórmula secreta e leio com total descrença as reportagens da Revista Nova. Acredito que gente só consegue fazer alguém feliz, sendo feliz. Pra mim, o amor não pode fazer parte de uma lista de coisas para fazer. Só consigo acreditar no amor espontâneo e com o doce gosto da liberdade de ser o que se é.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Qual o tamanho do seu mundo?

(Castelo de Edinburgh, Escócia, novembro de 2011)

Um dos pubs mais clássicos em Edimburgo se chama "World´s End". Como boa parte das cidades medievais da Europa, a capital da Escócia também foi murada. Os muros da cidade representavam o limite de um espaço seguro e familiar para seus habitantes. Então, para muitos, esse limite era o fim do mundo.

Os séculos se passaram. Cientistas provaram que nosso planeta é redondo e calcularam a superfície terrestre. Entretanto, embora o planeta tenha o mesmo tamanho em superfície, cada um estabelece o tamanho o seu próprio mundo. Para alguns, o mundo se restringe a sua terra natal. Seja por medo ou por comodismo, não se arriscam a conhecer outras paisagens. Outros tem a curiosidade de ir um pouco além. Querem conhecer lugares diferentes e apreciar novos sabores. Há ainda aqueles, como eu, para os quais cruzar os muros da cidade e arriscar-se num mundo grande torna-se uma necessidade. Gostam da beleza do desconhecido. Não costumam andar pelos mesmos caminhos, ir nos mesmos restaurantes e pedir o mesmo prato. Preferem a surpresa à comodidade do conhecido.

Eu sou assim: curiosa, inquieta, inconformada, exigente. Sigo querendo mais do que me é oferecido. Essa talvez seja minha maior virtude e também meu maior defeito. No fundo, quero apenas viver num mundo grande e sem fronteiras. E você? Quer ultrapassar os muros da cidade comigo? Talvez não seja seguro, mas pode ser muito divertido.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Gestos universais...


Enquanto aguardo o tempo passar sentada em um charmoso café de nome Rouge, eu aprecio um delicado vinho branco e observo o comportamento das pessoas ao meu redor. Em solo estrangeiro, as palavras nem sempre fazem sentido. São tantos idiomas. Então, decido me ater às atitudes.

Minha primeira constatação é que, de fato, as palavras correspondem a uma parte muito pequena da nossa comunicação. Por sinal, as palavras podem nos enganar, sobretudo quando queremos acreditar nelas. As palavras podem também esconder os sentimentos ou explicitar uma falsa intimidade. Mas os gestos, as atitudes, o olhar expressam muito mais do que palavras!

Observo, com um pouco mais de atenção, os casais que passam numa tranquila tarde de terça-feira. Um chinês agarra a mão da chinesinha com ternura, o inglês que desliza suas mãos na cintura da sua companheira, um egípcio raivoso com o atraso da namorada, uma moça chora diante de um jovem de sorriso largo. Não consigo decifrar todos os gestos, mas as cenas do cotidiano estimulam minha imaginação.

Penso na ternura, no desejo, na fúria e nas lágrimas de dor ou alegria. A taça de vinho terminou e uma música ressoar na minha mente: No Woman, No Cry / se Deus quiser! / Tudo, tudo, tudo vai dar pé! Com os pés doloridos de uma longa caminhada, eu decido ser paciente comigo mesma. Só me resta sorrir e deixar meus pés flutuarem quando não consigo tocar o chão. Peço outra taça de vinho à espera daquele olhar que aqueça corpo e alma numa tarde fria de outono. 

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sensual?!

(Chatsworth House, setembro de 2011)

Um curso para desenvolver a sensualidade por apenas 30 reais!!! Não era uma oferta do peixe urbano, mas a oferta foi tentadora. Infelizmente eu tinha outro compromisso e não participei do evento. Entretanto, eu fiquei pensando no assunto (como sempre).

É possível ser tornar uma mulher sexy com um cursinho de final de semana? A sensualidade se aprende ou é intrínseca? Será que sou uma mulher sensual ou sigo aquela menina de pés descalços e cabelos assanhados? Cabe ressaltar que não trato aqui de vulgaridade ou adjetivos similares. A minha concepção de sensualidade não é um micro-vestido e um salto agulha. Sensualidade é muito mais que isso. Trata-se de uma expressão delicada e marcante que atrai a admiração e o desejo de outros.

Não tenho as respostas para minhas questões. Tudo que tenho são algumas desconfianças, fruto da minha mente criativa. Acho que uma mulher só se torna sensual conhecendo melhor a si mesma. É preciso ser autodidata nesse quesito e ter coragem para entender as mutações de corpo e alma ao longo da vida. É também uma questão de autoconfiança para um olhar mais profundo, um passo firme e gestos delicados. Na minha opinião, cada mulher descobre dentro de si uma sensualidade singular.

Mas quem sabe eu consigo participar do próximo cursinho de sensualidade da minha escola de dança. Afinal, uma ajudinha nessa auto-descoberta nunca é demais. ;-)

<< Garotos não resistem aos seus mistérios / Garotos nunca dizem não >> (Leoni)
http://www.youtube.com/watch?v=hFJljUyEJ3c

sábado, 15 de outubro de 2011

Sozinha...

(Epopéia Italiana, Bento Gonçalves, out 2010)

Confesso que já passei um tempo constrangida por ser uma "mulher sozinha". A pressão social é intensa. As pessoas partem do pressuposto que seria improvável uma quase balzaquiana, de boa aparência e algum nível cultural estar solteira. É comum, nas conversas sociais e profissionais, me atribuírem um "companheiro" imaginário. Essas atribuições ficaram ainda mais frequentes depois que voltei as minhas atividades profissionais após a conclusão do doutorado.

Por isso, nas primeiras vezes, eu me constrangia. Fazia questão de deixar claro que a minha solidão era uma opção. Afinal, já fui noiva duas vezes (ambas por pura teimosia). A primeira vez era muito jovem e achava que meu amor mudaria o mundo. Insisti por dois longos anos, até perder completamente as forças. Na segunda, mais experiente, me deixei levar pelas expectativas de terceiros e não respeitei meus próprios sentimentos. Naquele momento, eu achava que estar solteira era um problema a ser solucionado e decidi que iria me casar. Felizmente, percebi o erro que estava cometendo com uma decisão impulsiva. 

Entretanto, nos últimos meses eu comecei a me sentir mais confortável com meu estado civil. Agora percebo que as pessoas se constrangem por mim com o equívoco. No fundo, isso tudo me diverte. Gentilmente sorrio e esclareço o meu "status". Não, eu não me casei, não tenho filhos, nem sobrinhos. Guardo pra mim a certeza que meu coração sempre amou intensamente. Não sei amar de outra forma, nem sei jogar com a indiferença para conseguir o que desejo. Sou péssima em jogos de sedução, mas não posso reclamar. Carrego comigo marcas secretas de amores bem vividos e outros não correspondidos. Poucas pessoas conhecem os golpes profundos que já recebi. Também sei que fui responsável por algumas feridas mal cicatrizadas em pessoas que mereciam meu amor, infelizmente (ou felizmente) os sentimentos não obedecem a regras racionais. Como Fernando Sabino, tive que aprender a fazer da queda um passo de dança... e sigo dançando sozinha e feliz.

De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer a interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
(Fernando Sabino)

domingo, 9 de outubro de 2011

Amigos do ex...

(Tampere, Finlândia, setembro de 2011)

Circulando pelos bares porto-alegrenses é frequente o reencontro com velhos conhecidos, ex-colegas e amigos de diferentes fases da vida. Esses reencontros são sempre muito amistosos. Uma rápida atualização sobre os fatos mais recentes e a promessa de novos encontros. É bom rever pessoas queridas, involuntariamente afastadas pelas mudanças da vida.

O tempo passa. A rotina muda. Os laços se fragilizam. Segundo um amigo, que lamentava a minha mudança de emprego - "não existe relacionamento sem convívio!". Eu já tive minhas convicções a esse respeito e hoje só permanecem algumas dúvidas, mas isso é tema para outro post. Não posso negar que é um desafio se manter presente para superar a distância e/ou as diferenças nas agendas, sobretudo quando o relacionamento é baseado no trabalho ou em uma terceira parte. Perde-se o motivo e a amizade se torna uma opção, que nem sempre se consolida por diversas razões.

Uma situação que me intriga são os amigos de ex-namorados. Não tive muitos namorados, mas confesso que sinto saudades do convívio com alguns dos amigos deles. Em algumas situações, eles se sentem pressionados: "ou ela ou eu!" Para não haver conflito, respeitam o critério da antiguidade. Lamentável que tenham optado por escolher e não incluir. Afinidade não deveria respeitar critérios sociais e términos de namoros. Contudo, nos abraços e nos sorrisos desses reencontros aleatórios, é bom perceber que é possível recomeçar amizades apenas pausadas por um breve momento.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Eu te amo...

Eu te amo. A frase tão esperada no universo feminino em qualquer relação. No começo, as partes estão se conhecendo... se descobrindo... se conquistando. Flores. Poesias. Convites inesperados. Surpresas "calientes".
Os dias se passam. A relação vai se construíndo e se delineando. Não há regras. Cada relacionamento tem seu ritmo e suas fases. Cada qual com seus altos e baixos. Mas o casal segue leve e feliz até que surge a espera pela "frase mágica". Infelizmente, o relacionamento pesa quando a expressão dos sentimentos se torna uma obrigação. É pesada a ansiedade pela "certeza do amor". Sofre quem espera, sofre quem se sente pressionado a "confessar" (quase como um crime) o sentimento.
- Eu amo e pronto. Não preciso confessar, percebe-se no meu olhar...
- Se ama, por que não declarar?
- Eu falo pouco. Não sou do tipo sentimental.
- São apenas três palavrinhas.
O diálogo do casal segue até alguém ceder e declarar-se ou desistir de esperar a declaração.
Na diversidade humana alguns facilmente se declaram. "Eu te amo" são apenas três palavras. Repetem com tanta frequência que perdem o valor na relação. Pior ainda são aqueles que mentem. Dizem amar apenas para seduzir o ser desejado. Há ainda aqueles que guardam o "amor" a sete chaves. Reservam a expressão dos seus sentimentos para momentos especiais, assim asseguram que o amor não será vulgarizado.
Eu procuro o equilíbrio. Penso que é importante declarar-se. Manifestar em palavras carinho e afeto, desde que sejam acompanhadas de atitude e verdade. Por vezes, sinto que minha voz ressoa no infinito, que volta para mim como um eco num poço profundo. Por vezes, me faltam as palavras certas, então eu me calado.
Mas cada um ama do seu jeito... em silêncio, em prosa e verso, em música, em serentas, em declarações sutis ao pé do ouvido. Confesso que é difícil abandonar as pesadas expectativas e se deixar amar do jeito do outro. Não tem fórmula secreta, nem "best way", nem livro de autoajuda que resolva. Só se aprende amar, amando.

" Cada voz que canta o amor não diz / Tudo o que quer dizer, / Tudo o que cala fala / Mais alto ao coração. / Silenciosamente eu te falo com paixão..." (Lulu Santos)

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Malas...

(Bento Gonçalves, agosto de 2011)

Toda viagem tem um ritual a ser seguido. Seja um final de semana prolongado, uma breve viagem de negócios ou umas férias merecidas. Quando se trata de uma agenda complicada e lotada de compromissos, a viagem exige uma grande atenção na preparação. Estou me especializando nisso nos últimos tempos e decidi compartilhar com os leitores desse blog a minha pequena experiência.

Tudo começa com uma lista de atividades pendentes que devem ser realizadas antes, durante e depois da partida. Os contatos com colegas e a autorização dos superiores, quando necessário. A revisão dos documentos e dos tickets, no caso de viagens internacionais. O planejamento básico do roteiro de trabalho ou lazer, sempre sujeito a alterações. A análise da previsão do tempo para, por fim, organizar a mala. Então, chega a hora de arrumar a mala.... a composição e o tamanho desta nem sempre está relacionada ao número de dias da viagem, mas ao perfil do viajante e ao objetivo da atividade.

As malas de viagens de trabalho costumam ser as mais fáceis de organizar. Roupas clássicas e formais, duas ou três peças mais casuais para um passeio, sapato preto e um tênis confortável, kit básico de higiene pessoal e roupas íntimas. Nas viagens de férias, as preocupações são diferentes. Logo, o processo decisório é mais lento. São inúmeras variáveis: clima, companhia, estilo, finalidade, etc. Por sinal, fica uma dica útil... A gente sempre compra alguma coisa nas viagens. Por isso, é bom guardar um espaço na mala ou se preparar para comprar uma mala nova na viagem.

Enquanto organizo as malas, eu aproveito para pensar em como organizar e reorganizar a minha própria vida. O fato é que qualquer viagem pode provocar profundas transformações interiores. É preciso estar preparada com um pretinho básico e um Chanel na bolsa, perfeitos para qualquer ocasião. Finalmente, minhas malas já estão prontas e eu espero ser a protagonista de uma nova versão de “Eat, Pray and Love”, mas quero ir direto ao final do filme com direito a MPB na trilha sonora e um brasileiro sedutor!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Despercebida...

(Comemorações, São Paulo, agosto de 2011)

Acho que poucos sabem, mas muitos descofiam. Então, eu mesma confesso. Esse sorriso zen esconde um mar de inquietações e expectativas frustradas. Sim, eu tenho longos dias de insegurança, medos e baixa autoestima.

No fundo, não temo pelas expectativas de terceiros, mas por aquelas que eu mesma estabeleço. Então, entrego meus pontos. Não consigo acordar cedo, nem malhar religiosamente, nem abandonar a sobremesa ao final da refeição, nem ter uma excelente didática todos os dias, nem deixar de esperar... É assim que vou levando. Sei que em alguns dias sou pura determinação e, em outros, sou o retrato da indecisão.

Nessa inconstância, não sou nenhum "case" de sucesso no mundo profissional e nem a "mulher que você sempre sonhou". Nem tenho a pretensão de sê-lo. Sou apenas assim. Mãos delicatas, que são também lâminas afiadas. Eu afasto, mesmo quando tento aproximar. Cometo erros, quando tento instensamente acertar. Desisto, quando deveria insistir. Meus planos perfeitos raramente funcionam e a vida me surpreende com alguma frequência.

Assim, estou me adaptando aos sucessos e fracassos, simultâneos e diários. Cultivo ódio e admiração por onde passo. Penso que são dois lados da mesma moeda. Apenas sigo... só não quero passar despercebida aos seus olhos.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

ZEN...

(Rio Guaíba, Porto Alegre, RS)

O tempo é escasso para todo mundo. Agenda lotada. Deslocamentos na cidade. Trânsito pesado. Barulho de buzinas. Gente mais apressada que a gente. Entre uma reunião e outra, uma parada para o almoço, que também se torna uma reunião-almoço. No final do dia, exaustada, tenho a sensação de muito trabalho e pouco resultado depois de longas discussões.

Nesses deslocamentos apertados entre uma reunião para outra, uma coisa me desacelera. Eu adoro cruzar as margens do Rio Guaíba e deixar que a tranquilidade das águas desse lago-rio me invada. Sempre que possível, gosto de dar uma paradinha e simplesmente admirar o sol que adormece quando encontra as águas.

Uma caminhada leve, um chimarrão com os amigos ou uma rápida passada de carro no dia-a-dia lotado de compromissos. Pouco importa a ocasião, as margens do Guaíba sempre me ajudam a seguir ZEN.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Correndo atrás...

As frases motivacionais são bem enfáticas: Nunca desista dos seus sonhos! Corra atrás dos seus objetivos! Lute para conquistar o que deseja! Mas eu confesso que cansei de "correr atrás". Isso não significa que tenha desistido de sonhar! Pelo contrário... Sigo elaborando muitos planos, quase um alfabeto inteiro de planos de A a Z.

O fato é que, muitas vezes, me sinto correndo sem sair do lugar. Por vezes, talvez seja essa minha alma inquieta. Os breves minutos de prazer por atingir objetivos e realizar desejos, são rapidamente substituídos por um ímpeto de começar uma nova maratona. Por sinal, lamento para o Bono Vox, mas acho que ele nunca encontrará o que está procurando. Outras vezes, me sinto correndo em vão pela falta de sintonia. A agenda não fecha. O vôo é cancelado. O telefone não toca. A mensagem fica sem reposta. Em certas situações é melhor não insistir - laisse tomber...

Diante dessa constatação, eu não quero mais "correr atrás"! Quero desfrutar intensamente das minhas conquistas, sem pensar em novos planos e nos impactos das decisões para o meu futuro. Quero compartilhar meu precioso tempo na companhia de pessoas que realmente desejem estar comigo. Sem pressa, sem pressão... Eu quero apenas reciprocidade nas relações e na vida. Cansei de correr atrás.

sábado, 30 de julho de 2011

Aula de dança...

(Pelo mundo em junho de 2011)
Mantenha a calma.
Respire fundo.
Você consegue.
Não complique as coisas.
Levante os ombros e encolha a barriga.
Mexa o quadril com vigor e moderação.
Caminhe com leveza.
Pernas alinhadas.
Espere! Antecipar-se pode ser fatal.
Sorriso no rosto.
Deixa que eu te conduzo.
Sinta a mudança no passo.
Os códigos são sutis.
Nunca olhe para os pés.
Respeite o espaço para não machucar o parceiro.
Deixe o corpo girar. Um. Dois. Três.
Agora volta pra mim.
Chega mais perto pra sentir o ritmo da música.
Pronto... Você já sabe dançar!

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Homens Frágeis...


Diante da vitrine do Boticário, eu tive certeza: os tempos mudaram e os homens não são mais os mesmos!

Primeiro é preciso contextualizar a mudança das mulheres. Elas organizaram movimentos nos anos 60 e 70, promoveram revoluções, queimaram os sutiãs em praça pública e lutaram por seus direitos. O feminismo ganhou força, rompeu preconceitos e mudou leis em inúmeros países. Embora ainda seja possível verificar muitas desigualdades entre os gêneros ao redor do mundo, vivemos novos tempos. As mulheres lutaram por um lugar ao sol e exigem igualdade.

Diante dessa nova mulher, alguns homens ainda se assustam. Mesmo os que não declaram explicitamente na roda de amigos, é possível perceber que alguns ainda preferem  uma mulher dócil e manipulável. Entretanto, muitos outros se fascinam por uma mulher poderosa! Aquela não pede licença com sua pisada firme e sensual. Então, eles também mudaram!

Eu diria que, nos tempos atuais, o "homem-macho" é aquele que assume o direito de ser frágil (e isso não está relacionado à escolha sexual de cada um). O homem pós-feminismo aceita ter medo, se sentir inseguro e, por vezes, chorar. Esse homem desenvolveu novas habilidades - lava, passa e cozinha (e como cozinha). Ele respeita as escolhas profissionais da mulher e decide estimulá-la a alçar vôos mais longos, pois sabe que essa é a única forma de construir uma relação saudável - respeitando as escolhas do outro.

Nos últimos tempos, percebo que o jogo virou... As mulheres tentam entender esse "novo homem". Eles estão mais complexos e enigmáticos, mas eu diria que também estão mais interessantes e cheirosos. Por isso, aderi à campanha do Boticário - viva o dia do homem! \o/

terça-feira, 12 de julho de 2011

Estado Civil...

(Igreja São Pedro, Porto Alegre, julho de 2011)

Esse final de semana, enquanto aguardava a minha vez no cabelereiro, eu li uma reportagem numa revista feminina - “o facebook é o novo anel de compromisso”. Os relatos dessa nova percepção de comprometimento no mundo virtual eram divertidos. As relações contemporâneas estão cada vez mais complexas. Começo, fim e recomeço não ficam claramente delimitados. Pensando nisso, o facebook apresenta diversas opções de status – não declarado, solteiro(a), enrolado(a), em relacionadomento sério, etc, etc.

Para os mais discretos, não declarar o status é a melhor opção para preservar a intimidade. Os discretos também preferem não publicar as fotos e os fatos do cotidiano. Afinal, nem todos querem divulgar para toda a rede social o estado civil e a rotina diária. Para outros, o facebook tornou-se uma importante ferramenta de marketing nas relações virtuais. Estar solteiro(a) na rede significa estar disponível no mercado, seja em promoção ou “superfaturado(a)”. Quem está solteiro indica estar prospectanto... aberto(a) a possibilidades.

Quase por acaso, eu encontrei, no mesmo final de semana, uma amiga desapontada com sua vida sentimental no facebook. Ela estava saindo com um rapaz há algum tempo e acreditava que estavam juntos, mesmo sem a formalização familiar da relação. Contudo, o tempo passou e ele seguia “solteiro” na rede. Ela, por sua vez, havia optado pela discrição e não declarava seu status. Enquanto ela me relatava a situação, eu me lembrei da reportagem de capa da revista feminina e quase comecei a rir pela conscidência. Mas respeitei seus sentimentos e comecei a refletir.

Talvez ela estivesse esperando do rapaz mais do que ele podia lhe dar. Talvez manter-se solteiro no facebook foi a forma que ele encontrou de indicá-la o limite da relação. Talvez ele simplesmente não tivesse tido tempo de atualizar o status. Talvez ele não considerasse isso tão importante. Talvez gostasse dela, mas queria manter-se aberto às possibilidades naquele momento. Talvez... De qualquer forma, eu achei melhor não opiniar sobre suas intenções do moço em auto-declarar-se “solteiro”. Tinha minha opinião e a guardei para mim. Mas para o bem da minha amiga, eu dei um único breve conselho: esqueça o facebook e seja feliz!

domingo, 3 de julho de 2011

Amiguinho...

(Médoc, Bordeaux, junho de 2011)

Eu sempre acreditei na amizade entre homem e mulher. Um amigo "homem" é muito importante na vida de uma mulher. Ele ajuda a simplificar o universo feminino repleto de elementos complexos, tais como: ciclos hormonais, necessidades múltiplas, inseguranças e temores de um futuro imprevisível. Nas crises existenciais, o amigo escuta silenciosamente (por sinal, uma habilidade masculina invejável) e, ao final, sintetiza sua opinião em breves palavras: "ele está te enrolando", "procure um outro emprego", "não pressiona que é pior" ou simplesmente "prefiro não opinar!". Se o amigo for "metrossexual", é melhor ainda. Ele se torna uma excelente companhia e uma opinião sincera nas compras e nas tentativas de um novo look.

Entretanto, também reconheço que sempre existe o risco da amizade despertar um outro tipo de interesse, sobretudo entre amigos heteros. O problema é quando esse interesse não é recíproco. Nessas situações, o papel de "amiguinho" da mulher que se está interessado passa a ser abominado pelos homens. O "amiguinho" é aquele cara sem risco e sem perigo. Uma vez que a amizade está bem consolidada, a evolução é complicada na cabeça feminina. Ela pensa: ele é um cara legal, inteligente, bem humorado, excelente companhia, mas não tem "química", é apenas um bom amigo.

Leoni já cantava: por que não eu? Não tenho a resposta para Leoni, nem para os amigos apaixonados pelas suas amigas. Paixão não se escolhe, nem se avalia por critérios racionais. Acontece... Depois disso, torça para ser correspondido e se não for, a única alternativa é dar tempo ao tempo tomando um taça de vinho tinto para aquecer as solitárias noites de inverno.

>>>

Quando ela cai no sofá
So far away
Vinho à beça na cabeça
Eu que sei..
Quando ela insiste em beijar
Seu travesseiro
Eu me viro do avesso
Eu vou dizer aquelas coisas
Mas na hora esqueço...
Por que não eu?
Ah! Ah!
Por que não eu?...

sábado, 25 de junho de 2011

Poucas palavras...

(Lake District, UK, 2011)


Sou alguém de poucas palavras. Penso que as palavras voam como o vento às margens de um lago qualquer. Elas perdem a validade se não forem acompanhadas por atitudes. Por isso, eu sempre prefiro os fatos, os gestos, as ações. Mas não tente decifrar minhas atitudes com complexidade.  Meus gestos são simples, como o que sinto por você. Se te procuro, é porque te quero. Se me afasto, é porque também preciso me preservar.

És especial para mim. Entenda que a beleza do meu sentimento está na leveza e na simplicidade de pequenos gestos. Um afago inesperado. Um olhar cálido. Mãos macias deslizando na cintura. Não quero juras de amor eterno. Não quero planos de uma volta ao mundo. Não quero promessas que podem ser quebradas. Meu coração não obedece a planos, metas e cronogramas. Quero apenas viver um dia de cada vez e, sempre que for possível, estar ao teu lado.

Então, não fique triste com o meu silêncio. Apenas feche os olhos e me traga para perto de você. Não espero de você mais do que possa me dar. A vida é imprevisível. Não tente conduzi-la. Caminhe mais leve. Liberte-se. Deixe que nossos caminhos nos conduzam a novos encontros e reencontros. E mantenha esse sorriso largo para mim!

sábado, 18 de junho de 2011

Dèjá vu...

(Marseille, junho de 2011)

Enquanto o avião sobrevoava as águas azuis do mar mediterrâneo, eu pensava na última vez que havia pisado no solo francês. A exaustiva coleta de dados e as incertezas que pairavam na minha vida profissional haviam se dissipado. Trabalho feito, eu voltava às terras francesas em busca de parcerias e acordos internacionais para pesquisas futuras. Nas mãos eu carregava um novo cartão de visita e o mesmo sorriso no rosto. Me acompanhava essa sensação de "dèjá vu" ao pisar no solo "marseillais". Tudo era diferente, mas pouca coisa havia mudado.

Na casa de uma amiga, eu ainda me reconhecia em pequenos objetos espalhados pela casa - o tapete na sala, o copo de Hoegaarden, a torradeira e a televisão - parte da minha herança deixada em Marseille. A "soirée" com um pequeno grupo de amigos era um reencontro delicioso recheado de lembranças, gargalhadas e promessas de visitas futuras ao belo país tropical.

Eu voltei a alguns dos meus lugares preferidos e descobri outros novos para acrescentar a lista. Eu conhecia muito bem o caminho, mas não pude deixar de perceber as inúmeras mudanças no decorrer do trajeto. A cidade estava se transformado e eu também estava diferente, embora não consiguisse perceber a profundidade das mudanças que ocorreram em mim nos últimos meses. Meus dias em Marseille foram mais breves do que gostaria, mas estar de volta ao sul da França deixou o gosto leve e frutado do bom rosé que degustei assistindo ao pôr-do-sol... Amour de Provence! Um amor leve como um passáro... que corta os sete mares com um punhado de boas recordações e possibilidades futuras... Santé!!!

"Il faut être léger comme l´oiseau et non comme la plume" (Paul Valéry)

domingo, 29 de maio de 2011

Interpretações...

Aquele e-mail tão curto e direto não era bem o que eu esperava, mas o arquivo anexado foi toda a resposta que recebi. Depois de uns minutos de desapontamento, comecei a refletir sobre o sentido dado às situações que vivenciamos. Naquele momento, a ausência de um texto de resposta indicava para mim indiferença da outra parte. A falta de umas poucas palavras de afeto no corpo da mensagem também poderia representar que o anexo era suficiente para atender a minha demanda, ou ainda, que a saudade já estava expressa no esforço para produzir o documento anexado.

Então pensei em outras possibilidades de interpretação para o e-mail. Talvez o dia tivesse sido corrido e cheio de compromissos. Talvez lhe faltou tempo e criatividade. Talvez pensasse que uma meia dúzia de palavras de carinho já não fosse tão importante pra mim. Podia ser óbvio, mas o óbvio também precisa ser dito. Talvez não significasse nada, simplesmente estava cansado demais para elaborar qualquer tipo de mensagem. É impossível encontrar uma interpretação “correta” que não existe e desisti de pensar no assunto. Afinal, minha interpretação será sempre muito limitada por inúmeros elementos: minha visão de mundo, minhas experiências, minhas expectativas, minha cultura, meu ciclo hormonal, etc, etc, etc. Por vezes, não consigo compreender nem mesmo as minhas próprias atitudes e reações, logo, quem sou eu para tentar interpretar as atitudes e reações alheias.

Confesso que alguns dias queria não ser tão questionadora. Não queria me pegar refletindo sobre o sentido da vida em plena quarta-feira. A madrugada se aproxima e me rendo ao cansaço físico e mental depois de um longo dia de trabalho. Cansei de pensar sobre o tal e-mail. Cansei de pensar sobre as possíveis interpretações para o fato. Cansei de me questionar e simplifiquei: foi apenas um e-mail com um documento em anexo. Simples! Respirei fundo, fechei os olhos e pensei: amanhã será um novo dia.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Dando um tempo...

Nos últimos meses passei por muitas mudanças e fortes emoções – conclusão do doutorado, reencontros e despedidas, processos seletivos, início de uma nova fase profissional e mudança de casa. Talvez por vivenciar tantas coisas num curto período de tempo, tive que aprender a “dar um tempo”.


Descobri que “dar um tempo” é fundamental. Precisei de um tempo para virar a chave de doutoranda para doutora. Precisei de um tempo para me habituar à ausência de pessoas que me são caras, embora alguns finais de tarde ainda sejam melancólicos. Precisei de um tempo para conhecer os nomes, as rotinas e as regras, e ainda preciso de um tempo para tornar também protagonista desse novo contexto organizacional.


Cabe lembrar que nos relacionamentos afetivos “dar um tempo” normalmente é interpretado como um término menos traumático ou uns dias de “férias da relação”. Contudo, eu acredito que, às vezes, “dar um tempo” é importante, sobretudo no começo (ou recomeço) das relações. Esse tempo ajuda a construir um compromisso espontâneo, sem o peso de uma relação oficial. O tempo também contribui para a intimidade e a compreensão das preferências mútuas. Após esse período, a relação se concretiza ou não. Nesse último caso, ficarão as boas recordações de sua leveza inicial.


Enfim... seja na vida profissional, emocional ou familiar, eu descobri que em períodos de muitas mudanças, em meio a um turbilhão de atividades e novidades, é fundamental “dar um tempo” para manter o equilíbrio físico e mental. No final, tudo acaba bem com uma taça de um Bordeaux e a companhia de bons amigos.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Necessidades...

(Vale do Loire, França)

Uma série de fatos desconexos durante a semana me motivaram a escrever essa crônica, mas entre estes destaco uma aula sobre a Pirâmide de Maslow e a Escola Comportamental. Logo, acho que preciso me explicar aos leitores do blog.
Maslow dizia que as necessidades humanas eram atendidas obedecendo uma ordem hierárquica. De maneira geral, o ser humano busca primeiro atender as necessidades fisiológicas (fome, sede, etc.), depois as necessidades de segurança (estabilidade). Também existem as necessidades sociais e de amor (amar e ser amado) e as necessidades de auto-estima. Por último estariam as necessidades de auto-realização (encontrar um sentido nas atividades que desenvolve). Ao final da aula, uma jovem aluna levantou uma questão acerca da hierarquia das necessidades e as diferenças de gênero.
- Por que os homens valorizam mais o reconhecimento social e as mulheres se preocupam tanto com segurança?
Embora essas diferenças fossem identificadas apenas pelo conhecimento empírico da aluna, o debate contagiou a turma. No final da discussão, os alunos pareciam concordar que as mulheres, de fato, buscavam muito mais a segurança e estabilidade do que os homens. Aliando ao degrau superior da "suposta pirâmide", as mulheres desejam segurança, sobretudo nas suas relações afetivas, enquanto os homens, ávidos por 'status' social, investiam  todas as fichas em elementos indicativos de poder para conquistar o amor.
Mas atenção... a conclusão da minha turma, assim como a pirâmide de Maslow, tem lá suas muitas exceções. As pessoas são, por essência, muito diferentes. No meu caso, sempre busquei independência financeira e emocional. Talvez eu seja uma exceção feminina. Talvez eu seja a regra no mundo pós-moderno. Na minha concepção, as relações são deliciosas parcerias que nos ajudam a alçar vôos mais longos. Como já mencionei anteriormente, não há garantias no amor. Um bom amor precisa de um "quê" de incerteza, entretanto deve ser generoso e respeitar a individualidade do outro.  Não preciso de uma Ferrari, prefiro um balão para dar a volta ao mundo em 80 dias. Confesso que tenho minhas necessidades, mas essas são segredos bem guardados e nem mesmo Maslow conseguiu desvendá-las.

sábado, 23 de abril de 2011

Apelidos...

Eu gosto muito do meu nome. Afinal, Aurora tem um lindo significado e ao lado do meu sobrenome adquire uma sonoridade interessante: Aurora Zen. Talvez seja por isso que eu não tive muitos apelidos ao longo da minha vida.
Entretanto, eu gosto de apelidos. Eles simplificam os nomes e aproximam as pessoas. Nas relações interpessoais, os apelidos servem para indicar carinho e intimidade. Alguns apelidos surgem sem explicação e nos acompanham ao longo da vida. Outros vão se modificando e adquirem novos significados oriundos de novas histórias. Há também aqueles que simplesmente desaparecem com o tempo. Em algumas situações, a relação muda e os apelidos são esquecidos. Em alguns casos, essa mudança passa desapercebido. Em outros, principalmente nos namoros, a inexistência de "apelidos carinhosos" pode ser tornar motivo de preocupação.
Alguns dias atrás eu encontrei uma amiga de longa data. Começamos a conversar e ela comentou que estava preocupada com a sua relação. Nos últimos tempos o namorado estava "diferente" com ela. Questionei o que havia acontecido, esperado algum fato escabroso.Com os olhos nublados, ela me disse:
- Ele não usa mais os apelidos que me deu! Agora, só me chama pelo nome.
Eu quase comecei a rir, mas fiquei penalizada com a inocente preocupação da minha amiga. Talvez tenha sido insensível da minha parte, como falei no início, nunca tive muitos apelidos. Também não gosto de apelidos genéricos e impessoais - amor, docinho, benzinho. Eu gosto de um apelido "só meu" - carinhoso, curtinho e fácil de se pronunciar - ou prefiro "meu nome", dito com jeitinho ao pé do ouvido. Então, com todos esses pensamentos vagos na cabeça, eu tentei consolá-la:
- Calma amiga, pelo menos ele lhe chama pelo seu próprio nome, pior seria se ele trocasse o seu nome.

Oh! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais.
(Casimiro de Abreu)

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Exigente...

(Epernay, França, 2010)
Foto: Fabio Reis.

A expectativa de cada um sempre tem como referência as experiências anteriores. Por isso, com o passar do tempo, corremos o risco de nos tornamos cada vez mais exigentes. Eu mesma passei por esse processo.

Como era de se esperar, meu envolvimento com o mundo do vinho me tornou mais exigente nesse campo. Prefiro tomar um bom vinho, ainda que ocasionalmente, do que me contentar a um vinho barato e de baixa qualidade. O prazer da degustação de um vinho de boa qualidade supera (e muito) a minha vontade de beber com maior frequência. Sou cautelosa nas minhas degustações e costumo ser implacável com os vinhos agressivos ao meu paladar.

Nas compras eu já não aceito as opções "mais ou menos". A calça jeans que não veste tão bem, mas está em liquidação. O sapato em promoção e descartável. Avalio a relação custo-benefício, mas, em primeiro lugar, preciso me sentir bem (leia-se: atraente). Por isso, sempre eu experimento. Uma vez que o produto realmente me empolgue, aí eu farei a avaliação do orçamento para a aquisição ou não.

Também percebo que minhas experiências me tornaram mais exigente nas relações afetivas. É preciso atração física e sintonia de sentimentos. Não me submeto a discussões e cobranças desnecessárias. Acredito que na base de uma relação estão respeito, incentivo e admiração mútua. Posso estar equivocada, mas não me contento com menos do que uma química explosiva.

Estou consciente de que um mundo perfeito é ilusório, simplesmente não existe. Contudo, isso não significa que eu deva me contentar com uma vida medíocre. Eu quero mais, acho que sempre fui assim. Eu quero um vinho estruturado e redondo, uma roupa na qual me sinta linda e alguém que me tire o fôlego. Pensando bem... não sou exigente, quero apenas o que eu mereço! ;-)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Alvará de soltura?!

(Alguma fonte em Roma)

Acho que toda mulher tem um grupo de amigas que lhe é especialmente caro. Eu tenho as minhas. A rotina, os projetos pessoais, o destino profissional e, por vezes, o estado civil nos afastam, mas sempre que possível conseguimos um espaço na agenda para um reencontro. Nesse grupo de amigas, eu acredito que aprendemos a respeitar o momento de vida de cada uma. O sentimento está maduro. A relação não tem espaço para cobranças ou ressentimentos. Quando conseguimos um momento juntas, não desperdiçamos pensando no afastamento, mas na alegria de estarmos novamente reunidas.

Contudo, nessa crônica quero falar sobre os afastamentos decorrentes de namoros e casamentos. Como uma mulher quase-balzaquiana e solteira me acostumei ser interpretada como uma "má influência" para as amigas comprometidas, sobretudo pelos maridos e namorados inseguros. Para algumas dessas, o happy hour passar a ser denominado de "um cafezinho com a Aurora no final da tarde". Uma baladinha light? Nem pensar! O alvará de soltura vence cedo, normalmente por volta das 22 horas. Em casos extremos, elas abrem mão da amizade temporariamente. Em outros, omitem o reencontro "por acaso" na Cidade Baixa às 19 horas. 

De fato, as longas conversas podem ser ameaçadoras quando a relação não vai bem. Nos encontros femininos se trata de um pouco de tudo - recordações e novas histórias, cinema, moda, viagens e relacionamentos. Algumas amigas me acusam de ter me tornado muito exigente e eu concordo. Também confesso que "prefiro ser essa metamorfose ambulante". Ainda tenho muito a aprender e sigo me permitindo viver. Mas eu insisto: não dá para beijar qualquer sapo, nem manter uma relação só pelo medo da solidão. Depois de boas risadas e reflexões filosóficas, volto pra casa satisfeita... Algumas amigas se descobrem insatisfeitas. Dias depois, o facebook me avisa a alteração do status!

Satisfeito (Marisa Monte)
Você me deixou satisfeito
Nunca vi deixar alguém assim
Você me livrou do preconceito de partir
Agora me sinto feliz aqui
Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho?
Vivo tranqüilo, a liberdade é quem me faz carinho
No meu caminho não tem pedras, nem espinhos
Eu durmo sereno e acordo com o canto dos passarinhos

domingo, 27 de março de 2011

Comprometimento num mundo líquido?


É impossível pensar sobre comprometimento sem levar em conta a fragilidade das relações humanas na sociedade pós-moderna. Segundo Bauman, vivemos num mundo líquido, em que as relações se estabelecem com extraordinária fluidez. Elas se movem e escorrem sem muitos obstáculos. Buscamos entender “a misteriosa fragilidade dos vínculos humanos, o sentimento de insegurança que ela inspira e os desejos conflitantes (estimulados por tal sentimento) de apertar os laços e ao mesmo tempo mantê-los frouxos" (BAUMAN, 2004, p. 8).

Queremos amar e nos sentir amados, mantendo nosso espaço, individualidade e liberdade. Queremos  compartilhar parte da nossa existência, mas também queremos relações leves, na qual cada um respeite as escolhas do outro. Nos dividimos entre a busca de um amor tranquilo (com sabor de fruta mordida) e a insegurança dos constantes movimentos imprevisíveis das relações humanas. Queremos a sintonia perfeita vivendo num contexto cada vez mais complexo.

É preciso aceitar que não há garantias no amor. O chão pode se mover a qualquer instante.  O amor chega e se despede sem aviso prévio. O que aconteceu com o amor declarado em verso e prosa? Escorreu entre os dedos pelos mais diversos motivos. Por isso, eu descobri que não se deve "investir" em uma relação. O amor não é um certificado de investimento bancário. O melhor é abrir a alma generosamente, sem esperar nada em troca. 

Também cheguei a conclusão que o comprometimento não se define pelo status nas redes sociais, pelo título utilizado nas apresentações formais ou por um pedido oficial para uma "relação mais séria". O comprometimento se percebe pelo interesse, pelo companheirismo, pela compreensão e pelo respeito. Comprometimento não são palavras e promessas, são atitudes. Mas assim como o amor, não se pode exigir ou esperar o comprometimento de ninguém. Seria como bater insistentemente na porta de uma casa vazia. O amor e o comprometimento são dádivas das relações humanas e só terão valor se forem espontâneos.

Eu grito por liberdade, você deixa a porta se fechar.
Eu quero saber a verdade e você se preocupa em não se machucar.
Eu corro todos os riscos, você diz que não tem mais vontade.
Eu me ofereço inteiro e você se satisfaz com metade
Sempre a meta de uma seta no alvo, mas o alvo na certa não te espera.
Então me diz qual é a graça de já saber o fim da estrada.
Quando se parte rumo ao nada.
(Paulinho Moska - A seta e o alvo)

sábado, 19 de março de 2011

E os planos?!


As ondas tsunamis estão cada mais vez frequentes pelo mundo. Temos visto uma potência mundial sucumbir diante de terromotos, uma tsunami e ameaças de explosões nucleares. Há um mês, tudo esta em paz no Japão. Acostumados aos tremores decorrentes da localização no globo terrestre, os japoneses foram habilidosos ao construir seus prédios e os reatores estavam duplamente protegidos. O país estava tecnologicamente preparado, mas não para tantas catástrofes ao mesmo tempo.

Os últimos acontecimentos abalaram não apenas o Japão. É quase inacreditável para o mundo o que está ocorrendo naquela pequena ilha. De um lado, a situação do país nos sensibiliza - milhares de mortos, problemas de abastecimento, destruição e radiação nuclear. Por outro, é impossível não pensar na brevidade da vida e na nossa pequenez diante da força da natureza. Tantos sonhos, tantos planos, tantas vidas levadas por uma onda gigante!

Tudo isso me fez refletir sobre o meu hábito de planejar a vida. O tempo todo estou elaborando planos pequenos ou grandes para realizar meus objetivos. Entretanto, em diversas situações me deparei com uma completa mudança de planos. Essas mudanças testaram toda a minha capacidade de adaptação e ainda assim eu continuei planejando.

Contudo, depois dos últimos fatos no Japão, eu acho que preciso rever meus planos. Eliminar alguns, reformular outros. Talvez eu esteja iniciando uma fase mais imediatista da minha vida. Talvez eu tenha me convencido de que é melhor não ter mais planos. Esse sim seria um enorme desafio para uma doutora em administração tão habituada a seus planos de curto, médio e longo prazo - rasgar o planejamento estratégico e viver a risca a filosofia "como se fosse o último dia..." Mas como vou realizar tão façanha? Acho que preciso de um plano! ;-)

ROSA DE HIROXIMA (Vinícuis de Moraes)
Pensem nas crianças mudas, telapáticas
Pensem nas meninas cegas, inexatas
Pensem nas mulheres rotas, alteradas
Pensem nas feridas como rosas cálidas
Mas so não se esqueça da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroxima, rosa hereditária
A rosa radioativa estúpida e inválida
A rosa com cirrose a anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume sem rosa, sem nada
Sem cor sem perfume sem rosa, sem nada

terça-feira, 15 de março de 2011

Acaso?

(Praia do Cardoso, SC)

O que eu faço para amenizar a saudades daqueles que partiram sem eu querer dizer "adeus"? Daqueles que foram tirados do meu convívio por circunstâncias naturais da vida, mas que inevitavelmente permanecem presentes na minha memória?

Entre o novo e o velho mundo, eu conheci muitas pessoas maravilhosas, que me ensinaram tanto. Pessoas que deixaram saudades e que nesse final de verão no hemisfério sul fazem meu coração pulsar num ritmo melancólico.

Nesses últimos dias eu tenho lamentado a privação da companhia de tantas pessoas maravilhosas que fizeram parte da minha vida. Pessoas que, ainda hoje, fazem parte de mim. Sim, elas estão presentes nas histórias que conto, nas fotografias que vejo, nas boas lembranças de um momento da minha vida, nos aromas e sabores que aprecio. Seguiram comigo durante um trecho do meu caminho... sorrindo ou chorando... um dia enfrentamos uma encruzilhada e tivemos que seguir caminhos diferentes.

Eu tento resignar-me com o destino, alegrar-me com as recordações e com a companhia dos amigos do presente e, quando possível, consolar-me com planos de encontros futuros. Contudo, alguns dias eu não quero consolo. Então, me sento quieta e solitária. Admiro o pôr do sol e derramo uma lágrima por aqueles que partiram e não podem mais admirar o pôr do sol ao meu lado!

"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso. "
(Antoine de Saint-Exupéry)

domingo, 13 de março de 2011

Não vire as costas para o mar...

(Farol de Santa Marta, SC, Brasil)

Nem samba, nem frevo, nem axê. Meu carnaval foi ao som das ondas do mar. O cenário perfeito para descansar corpo e alma. A alegria dos pequenos e simples prazeres da vida. Brisa suave, balanço de rede, pés na areia, banho de mar, companhia dos amigos, deliciosos frutos do mar bem preparados, gargalhadas em plena madrugada. Momentos que fazem esquecer qualquer preocupação. Eu estava em paz...

Os dias de carnaval também me ensinaram uma lição: "nunca vire as costas para o mar!" Uma pequena onda pode arrebentar com mais força do que esperamos. Águas aparentemente tranquilas podem trazer com uma sequência de ondas fortes e derrubar até os banhistas mais experientes. Por vezes, é possível retomar o equilíbrio rapidamente. Por vezes, o mar é mais forte e precisamos de uma mão amiga que nos ajude a levantar. Por vezes, eu encaro de frente. Por vezes, mergulho fundo e deixo as águas me levarem.

Olhos atentos, pés firmes, pulmão preparado. Assim como a vida, o mar sempre nos surpreende. Então, não vire as costas para o mar, nem para a vida!

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Ainda...


Quando eu decidi fazer doutorado em 2006, não esperava que minha vida desse tantas voltas em quatro anos. Em termos acadêmicos, eu me empenhei em tornar a minha experiência como pesquisadora mais completa e me aventurei pelo velho mundo. Em termos pessoais, eu também mudei (e como)! Busquei novos destinos, troquei de endereço algumas vezes e retornei para a casa dos meus pais no último ano do doutorado.

Já de volta ao Brasil e concentrada na redação tese, eu tive que me acostumar às questões com "ainda". Essas questões são muito frequentes em ambientes sociais, sobretudo nas festas familiares e nos reencontros com ex-colegas. Após uma rápida saudação, as próximas perguntas, motivadas pela incontrolável curiosidade humana, normalmente são: você ainda não está trabalhando? Você ainda mora com seus pais? Você ainda não tem um carro? Você ainda não casou? A resposta é a mesma: AINDA NÃO. Tive a sorte de não trabalhar por quatro anos (já que dar aulas não é trabalho). Ainda moro com meus pais e divido o carro com a minha mãe, o que representa uma economia considerável no orçamento. Meu estado civil é solteira e, pelo que acompanho das histórias de algumas amigas, muita calma quando o assunto é casamento.

Diante do visível desapontamento dos meus parentes e amigos, me questiono por que a linearidade das fases sociais é tão relevante para algumas pessoas. Na visão de alguns, é impossível ser realizado e feliz fora desse ciclo de vida social. Lamentável... A vida é imprevisível demais para estar associada a ciclos. Cada pessoa trilha seu próprio caminho com encontros e despedidas imprevisíveis.

Eu já conquistei algumas coisas, mas "ainda não" realizei outras tantas. Novos sonhos e desejos não param de surgir. O tempo passa e espero, um dia, compartilhar com os meus netos algumas dessas histórias e instigá-los a seguir o caminho improvável do coração. Então, parafraseando Pablo Neruda, no compasso e fora dele, eu direi: "Confesso que vivi..."

“Talvez não tenha vivido em mim mesmo, talvez tenha vivido a vida dos outros. / Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre – como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrer e as uvas que reviverão no vinho sagrado. / Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta.”
Pablo Neruda

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Degustação...



A mesa de sobremesas estava repleta de delícias. Crème brûlée, tartaletes, brownies, trufas, frutas carameladas, macarons. Era difícil escolher. Se eu pudesse, devoraria todos aqueles belos docinhos! Enquanto eu mergulhava num mar de dúvidas gastronômicas, ele, que observava atentamente o meu olhar indeciso, me disse:

- Pegue um pedacinho de cada, pois cada qual tem seu sabor.

A pitada de malícia daquela afirmação hedonista, me fez pensar. 
De fato, o que me impedia de fazer uma deliciosa degustação de docinhos, além da consciência da minha gourmandise?
Provar um pedacinho de cada me proporcionaria a descoberta de novos sabores e das minhas preferências. Assim, eu iniciei a minha degustação. Logo percebi que o segredo era não tentar adaptar o doce ao meu próprio paladar, mas tentar identificar o sabor especial que cada um apresentava e apreciá-lo lentamente. 
Pode ser um chocolate com pimenta. Por vezes, uma mistura sutil de sabores tão distintos é interessante. Nada muito adocicado. Nada muito ácido. Nada muito pesado. 

Sigo degustando... Quero apenas descobrir o 'docinho' que suscite em mim o desejo de um pedacinho mais.  

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Sentimentos não se organizam!

(Pelas ruas de San Telmo, Buenos Aires)


Sentimentos não se organizam. A frase ressoou na minha mente como os sinos estridentes da igreja de uma pequena cidade. De fato, a “administração” como ciência, por vezes, se torna uma erva daninha para mim. Ela extrapola o âmbito profissional e penetra nas mais diferentes esferas da minha vida. Eu me percebo presa aos princípios clássicos de Henry Fayol: PODC - Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar. Contudo, nem sempre é possível administrar a vida com os mesmos princípios que se administra uma empresa. Reconheço essa limitação do meu campo de estudo e admito que a vida é muito mais complexa.
Concordo, sentimentos não podem ser administrados. Eles não são planejados. A beleza está na espontaneidade. Também não podem ser organizados em pastas por ordem alfabética. Muito menos, dirigidos de maneira lógica ou controlados pela lei do custo-benefício.
Os sentimentos são inexplicáveis. Eles nos invadem sem aviso prévio e não nos abandonam pela nossa própria vontade. São soldados persistentes. Por vezes, lutamos contra eles. Tentamos nos convencer de que devem ser ignorados. Travamos uma profunda guerra interior entre razão e sensibilidade. Até finalmente, entregarmos os pontos. Nos permitimos simplesmente sentir.
Não adianta complicar. O melhor é tentar entender a simplicidade dos ingredientes de cada sentimento. Para mim, o amor é uma química de afinidades, respeito mútuo, carinho e companheirismo. Por vezes, saí faísca. A mistura entra em erupção. As pessoas mudam. Por isso, é preciso calma. Esse caminho nem sempre é fácil, pois envolve autoconhecimento e compreensão do próximo. Ele não pode ser organizado, controlado, dirigido. Conduzir ou deixar-se conduzir? Sim... somente ao som de um belo tango.


Dos gardenias para ti
Con ellas quiero decir:
Te quiero, te adoro, mi vida
Ponles toda tu atención
Que seran tu corazón y el mio

http://www.youtube.com/watch?v=rublV5LQ5Ds

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Retoques?

(Sem retoques, Imbassaí, BA, Brasil)

Poucos dias atrás tirei algumas fotos 3x4 recentes como parte do processo da minha contratação. Eu detesto minhas fotos 3x4, mas as exigências do RH não se discute. Então, lá fui eu. Para incentivar os pequenos empreendimentos, eu optei por um clássico estúdio fotográfico no centro de Porto Alegre. Com orgulho, o fotógrafo expõe o seu trabalho e fotos de alguns dos seus clientes famosos, entre eles, Leonel Brizola.

Perguntei o preço. Honesto. Reforcei a maquiagem para disfaçar a oleosidade da pele nesses dias insuportáveis de verão e me posicionei. Levanta aqui, abaixa ali, mantenha os olhos abertos e uma fisionomia indiferente (nem triste, nem feliz). Um, dois, três cliques. Pronto! Escolhi a que me achei mais "simpática" e aguardei a revelação.

Nesse momento, ele me questionou:
- Com ou sem retoque?
De fato, o photoshop invadiu os estúdios fotográficos. Até mesmo os mais simples estabelecimentos escondidos no centro das grandes cidades. Seria correto entregar fotografias retocadas para o RH? Não me lembrei de nenhuma regra que proibisse os "retoques". Refleti por um momento e pensei: por que não?
- Pode retocar, por favor!

Confesso que me rendi a essa inovação tecnológica que solucionou o problema das fotos para documentos. Pele sem brilho e lisinha. Cabelos alinhados. Voltei a ter 25 anos. Incrível. É provável que a pessoa do RH não acredite que já conclui o doutorado, pois me achará "muito jovem". Risos. Diante do resultado final, fiz as pazes com as fotos 3x4, desde que retocadas. Afinal, todo mundo merece uma leve retocada um vez que outra.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Contente...

(Nas alturas, janeiro de 2011)
Ao longo da vida, eu tive que aprender a viver contente nas mais variadas circunstâncias: na fatura ou na escassez; na multidão ou na solidão; no futuro certo ou nos momentos de incerteza; na alegria do reencontro ou na tristeza do adeus. A consciência da transitoriedade dos fatos da vida tem tornado minha existência mais leve e feliz. É preciso aceitar que coisas boas vem e vão o tempo todo. Sigo com um sorriso no rosto e tento manter as expectativas sob controle.


Entretanto, também preciso dizer que eu aprendi a viver contente, mas não conformada. Estou contente com essa nova fase da minha vida, o que não me impede de continuar querendo mais. Com um coração grato a Deus pelos sonhos realizados, sigo buscando alçar vôos mais altos. Afinal, parafraseando Ricardo Gondim, "não basta o existir, é preciso viver."

Insuficiências...
Ricardo Gondim.
Não basta o abraço, é preciso apertar o corpo.
Não basta o beijo, é preciso lambuzar o rosto.
Não basta o riso, é preciso comunicar alegria.
Não basta a companhia, é preciso criar sintonia.
Não basta o compromisso, é preciso persistir de mãos dadas.
Não basta a canção, é preciso inspirar o espírito.
Não basta o sono, é preciso não perceber noite passar.
Não basta o apetite, é preciso santificar o prato.
Não basta a oração, é preciso transcender no mistério.
Não basta o sexo, é preciso misturar as peles.
Não basta a luta, é preciso nobreza no ideal.
Não basta a sinceridade, é preciso fazer parceria com a verdade.
Não basta o existir, é preciso viver.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Na pressão...

(Em algum lugar da Salvador, janeiro de 2011)

Na pressão nada acontece! O tempo não passa. Os objetivos se tornam distantes. A gente corre e não alcança, então se cansa. Há que adoeça diante de uma forte pressão. Há quem tente fujir da pressão e seguir na direção oposta. Entretanto, em algumas situações, enfrentar a pressão se torna inevitável. O fato é que todos nós passamos por diversas fases de pressão ao longo da vida. Logo, comecei a me perguntar: o  que fazer diante das inevitáveis pressões da vida?

A resposta que encontrei com o passar do tempo e o acúmulo desnecessário de 'stress' foi: não fazer nada que esteja além ao meu alcance! Cansei de me pressionar demais em função dos prazos, objetivos e obrigações que outros (ou eu me mesma) me impõe. Diante de um deadline importante, eu tento, na medida do possível, não desaparecer da academia, não desmarcar o happy hour com os amigos e participar das comemorações em família. Tento...

Estou me esforçando. Por isso, eu costumo me lembrar da primeira regra que aprendi na Bahia: PACIÊNCIA. Confesso que nem sempre é possível. Mas nos momentos que cedo às pressões, me lembro da segunda regra: ESQUECER A PRIMEIRA. Já os franceses, quando pressionados, certamente diriam: Laissez faire, laissez aller, laissez passer.... 

Essas regras também podem ser valiosas na vida pessoal. É preciso deixar o veleiro seguir sua direção com a ajuda do vento. Não adianta brigar com a natureza, pois ela comanda a velocidade do barco. Basta, pacientemente, observar o movimento das marés e aguardar bons ventos. Sem pressa, sem pressão. Mesmo que uma sequência de fortes ondas nos derrubem ou agitem o barco. Manter a calma é essencial para tudo ficar bem, pelo menos interiormente. Afinal, seguir a vida tranquilamente faz bem para o corpo e para a alma.


"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." (Fernando Pessoa)