quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Coragem...

(Arthur's Seat, novembro de 2011)

Fazia algum tempo que não nos encontrávamos. A correia do dia-a-dia. As muitas viagens a trabalho. As mudanças dos últimos meses. Ainda assim, vez que outra passávamos algum tempo ao telefone para diminuir a distância. Nos nossos poucos encontros, o tempo voava e não dava tempo de nos atualizarmos de todas as pequenas novidades. Foi assim que mantivemos uma intimidade singular depois de tantas transformações. Mas confesso que, naquele dia, ela estava diferente ao telefone. Precisava me encontrar com uma certa urgência. Queria desabafar e me escutar para se sentir menos solitária. Depois de uma longa conversa, tudo o que consegui dizer foi:

- É preciso coragem para aceitar o fim do amor!

Essa frase ressoou nas paredes da sala do meu apartamento e no meu próprio coração. De fato, é preciso coragem para quem vê o amor escoando entre os dedos. Sofre quem deixa. Sofre quem é deixado. O fim do amor nunca é indolor. Por isso, eu repeti... é preciso coragem para escalar essa montanha, minha amiga.

Sim, é preciso coragem para aceitar que não se trata de "mal me quer ou bem me quer..." A gente pode continuar querendo o bem da outra pessoa, a companhia e a amizade, mas já não é um amor eros. É preciso coragem para machucar quem ainda se quer bem, pois é melhor deixar o outro livre para viver um novo amor, do que mantê-lo preso e mal amado. Também é preciso coragem para aceitar o fim e ver o ser amado partir. Coragem para não se contentar com as migalhas de afeto do que já foi um grande amor. Presentes, ligações, e-mails ou telegramas perdem o valor. Não adianta insistir. Você ainda ama, mas amar sozinho não basta. Então, é preciso coragem para não ligar, não escrever, enxugar as lágrimas e esquecer mesmo sem se conformar com o fim.

Naquela noite chuvosa, eu olhei com ternura a minha amiga, quase como quem se vê num espelho. Beije-lhe a testa e a abracei com um coração despedaçado. Continuei a minha frase, como se ela estivesse lendo os meus pensamentos:
- Hoje pode parecer impossível, mas é preciso coragem para, ao menos, começar a tentar querer esquecer...

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