sexta-feira, 30 de abril de 2010

Prends ton temps!

(Big Ben - Londres / agosto, 2009)

Eu havia rodado 150 quilômetros de Marseille até Les Arcs para uma entrevista na "Maison du Vin". A hora da entrevista se aproximava e eu estava completamente perdida. Tão perto, tão distante. Depois de longos minutos de busca, eu cheguei... atrasada, mas feliz simplesmente por chegar. O diretor da organização me aguardava. Devido ao meu atraso, ele teria apenas 45 minutos para a entrevista. Me desculpei e "fui direto ao assunto", enquanto, apressadamente, eu procurava o gravador e o bloco de anotações na bolsa. Nesse momento, ele me interrompeu e disse educadamente: - Prends ton temps...
Eu parei, respirei, desacelerei, tomei meu tempo, achei os artefatos e então começamos a entrevista. Voltei para Marseille, mas eu não me esqueci daquela frase.

"Prends ton temps" é uma expressão francesa sem uma tradução adequada para o português. Literalmente seria "tomar o teu tempo". O sentido na cultura francesa seria como: "não precisa se apressar, tome o tempo que for  necessário". Os franceses estão certos nesse ponto. Muitas vezes, tudo o que precisamos é "tomar o tempo" para nos adaptarmos a uma nova cultura, para dominarmos um idioma, para organizarmos os pensamentos, para encaixarmos as teorias, para elaborarmos um modelo. Mesmo diante de um "deadline" apertado, tento me lembrar de respeitar o meu tempo para escrever um artigo, um capítulo, uma tese.

Então, nos dias de cansaço e questionamentos das minhas escolhas, eu respiro fundo, faço meu mundo parar por alguns minutos e tomo meu tempo! Tomo também um café, um chimarrão ou um vinho honesto com os amigos. Cada coisa a seu tempo, nem sempre no tempo esperado, mas no tempo que for necessário para acontecerem. Enfim, o cronograma avança, mas é preciso respeitar o tempo. Respiro, me alongo, dou um tempo e sigo o caminho. Alguns dias acelero o passo; em outros, eu quase paro... Nem sempre no mesmo ritmo, eu apenas prossigo!

<< Tempo, tempo, tempo, tempo... Entro em acordo contigo!>>
http://www.youtube.com/watch?v=PhSpjxxC31E

quinta-feira, 22 de abril de 2010

A flexibilidade dos girassóis...

Girassóis - Feira no Vieux Port de Marseille (abril/2010)

Nos últimos dias eu andei me sentindo meio "homeless". Nas idas e vindas entre o novo e o velho mundo, eu perdi um pouco a sensação de pertencimento a um lugar, a uma cidade, a uma casa. O fato é que depois que iniciei o doutorado, eu passei por algumas mudanças. Decidi morar perto da Universidade e me mudei para o centro de Porto Alegre. Fui para a França e depois de três anos morando sozinha, voltei para o meu antigo quarto na casa dos meus pais. A ideia não me pareceu atraente no começo. Confesso que fui um pouco relutante. Depois de morar sozinha por três anos, eu estava acostumada a ter o meu espaço e a morar pertinho de tudo. As coisas mudaram e eu preciso ser flexível como os girassóis em busca do sol.

Passados alguns dias no meu "velho novo lar", eu comecei a me adaptar. Uma mudança na decoração, uns ajustes tecnológicos, um espaço para as longas horas de trabalho, a escolha de uma academia e a readaptação aos 45 minutos no trânsito para chegar na Universidade. Mas morar em Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, também tem suas vantagens. Por um lado, aqui eu não tenho todas as facilidades da capital, por outro, a academia e as locações de DVDs são quase a metade do preço! Além disso, tenho a companhia e o otimismo dos meus pais nos picos de stress durante a redação da tese.

A flexibilidade dos girassóis é fundamental para ser feliz num ano de incertezas. Eu ainda não sei o que eu farei no próximo ano, nem mesmo se estarei por aqui. Mas juro que cansei de pensar nos dilemas do meu futuro incerto. Decidi pensar apenas nos aspectos positivos de ter flexibilidade e no que preciso fazer hoje. A "listinha" de atividades está sempre pronta... Como um girassol, eu giro para sentir o calor do sol que aquece meu coração nos fins de tarde de um outono qualquer no novo mundo.

<< Deixo o sol bater na cara
Esqueço tudo que me faz mal
Deixo o sol bater no rosto
Que aí o desgosto se vai >> Girassóis - Cidadão Quem
http://www.youtube.com/watch?v=gqlpqSo0Cmg

sábado, 17 de abril de 2010

As viagens que eu não fiz...

Vista de Chateauneuf du Pape (França, maio de 2009)

São seis horas da manhã. A previsão era de um dia chuvoso e muito frio. A cama quentinha me pedia para ficar mais cinco minutos. Eu havia comprado as passagens com um mês antecedência, certa de belas fotos numa das regiões mais bonitas da Inglaterra. Seria impossível prever o tempo e o meu ânimo com tanta antecedência. Eu pensei uma, duas, três vezes. Aquela poderia ser a minha única oportunidade de conhecer o Lake District, entretanto aquele não era um bom dia para fazer um cruzeiro por um lago, não com uma previsão de -1ºC. Certamente, o vento frio seria como navalhas no meu corpo não habituado a temperaturas tão baixas. Cinco minutos se passaram, contabilizei o preço das passagens no trade-off entre ir ou ficar e eu decidi abortar a viagem. Virei para o lado e adormeci profundamente por mais duas horas, contente com a minha decisão. Nos últimos meses, eu fiz algumas viagens pelo velho mundo, muitas também foram as viagens que eu não fiz.


E olhando para trás, eu não tenho arrependimentos. Eu não fui para o norte da Itália com algumas amigas, nem para o Sul da Espanha, porque eu precisava iniciar a coleta dados e estaria muito preocupada com a minha tese. Eu não fui para Praga e Budapest no verão de 2009 por falta de orçamento, por outro lado eu me encantei pelo norte da Inglaterra. Mas independente dos resultados positivos ou negativos, uma decisão sempre tem um contexto, impossível de replicar. Uma decisão é sempre circunstancial. Uma vez tomada, aquela foi a melhor decisão para aquele momento. Afinal, segundo o filósofo grego Heráclito, um homem nunca mergulha duas vezes no mesmo rio.

Por isso, não costumo pensar sobre o porquê escolhi esse ou aquele caminho. Por vezes, a decisão pode ser aparentemente irracional, contudo, tudo se encaixa depois de algum tempo. Outras vezes, trata-se apenas do momento inapropriado, outras oportunidades surgirão e novas decisões serão necessárias.

Praga, Budapest, Veneza, Granada, Annecy, Lake District... Todos esses lugares aguardam o momento de serem descobertos por meus olhos curiosos. Ainda não desisti das viagens que não fiz, apenas sigo sem pressa no aguardo de novas oportunidades.
 
"Enquanto o tempo
Acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara..."
(Lenini) >> http://www.youtube.com/watch?v=je-RTYbzoEk&feature=related

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Caminhos...

Foto: Fábio Reis

Cruzando a França de norte a sul, ainda penso na minha dolorosa partida de Paris. Embora triste, eu carrego comigo um bom punhado de boas lembranças. A troca é justa. Desde muito cedo, eu aprendi que não é possível se ter tudo e que o destino é sempre imprevisível. C´est la vie... Sim, eu sei que “a vida é assim”, mas por vezes eu não me conformo com a vida.

Então me lembro das palavras de Salomão, dito o homem mais sábio do mundo segundo a Bíblia. O dinheiro, o conhecimento, o prazer, “tudo é correr atrás do vento”, pois o destino final de todo ser humano é a morte. Logo, diante de uma vida tão efêmera, só o que me resta contemplar com atenção cada detalhe dos caminhos que percorro e viver.


O céu fica rosado. Anoitece no trem de alta velocidade que corta a França. A paisagem bucólica francesa me lembra outros caminhos que cruzei pelo velho mundo. A Toscana coberta de neve, a frota de bicicletas no interior da Bélgica e da Holanda, as florestas do sudoeste da Alemanha, as montanhas na fronteira entre a Suíça e a França, as margens do rio Douro em Porto, as minhas viagens para pesquisa de campo no Sul da França, o caminho de Santigo de Compostela pela Galícia, as ovelhinhas na estrada para a Escócia e as casinhas de tijolo à vista no norte da Inglaterra.


Cada um desses caminhos me remete a experiências diferentes. Quanta coisa aconteceu nos últimos meses... Quantos caminhos percorridos! Quantos caminhos eu ainda vou percorrer no velho e no novo mundo? Não sei. Ninguém sabe. Os caminhos se abrem diante de mim, faço minhas escolhas e sigo.


No fundo, como Salomão, eu também sei o fim do meu caminho... Nessa breve existência, pego belas trilhas inesperadas, me perco nos atalhos, paro e tiro algumas fotos, rio e choro, me emociono, respiro e penso nos objetivos de curto e longo prazo. Às vezes sozinha e às vezes acompanhada. Sigo por caminhos conhecidos ou completamente novos pelo simples prazer da descoberta!