terça-feira, 27 de março de 2012

A arte de perder

Eu estou tentando dominar a "arte de perder"! 
Estou me acostumando com a ideia de perder. 
Desde que perdi minha inspiração, eu me permito perder outras coisas e aceitar com serenidade.
Perdi as chaves da sala e, então, eu perdi a sala!
Perdi o jogo de xadrez!
Perdi a simpatia de algumas pessoas!
Perdi o prazer por certos sabores!
Perdi o caminho de volta pra casa!
Perdi a tua companhia!
Surpreendentemente, quanto mais eu perdia, mais eu me achava.
Por isso, eu vou continuar perdendo.
Nem que seja para aprender a perder com um sorriso no rosto!
Afinal, saber perder é também um arte.

One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster,
Lose something every day.
Accept the fluster of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.
Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant to travel.
None of these will bring disaster.
I lost my mother's watch.
And look! my last, or next-to-last, of three beloved houses went.
The art of losing isn't hard to master.
I lost two cities, lovely ones. And, vaster, some realms
I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.
- Even losing you (the joking voice, a gesture I love)
I shan't have lied.
It's evident the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) a disaster.
(Elizabeth Bishop)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Sem inspiração...

(Porto Alegre, 8 de março de 2012)

Não foi planejado. Simplesmente aconteceu! Lamentavelmente, eu perdi minha inspiração. Essas coisas que são inexplicavelmente espontâneas, nos invadem e nos deixam sem aviso prévio. Então, eu fiquei aqui. Completamente só sem a minha inspiração!

Eu perdi minha inspiração... depois de longas jornadas de trabalho em uma sala pequena e abafada. Entre centenas de páginas para revisar e orientar, eu descobri como ocultar a minha própria desorientação.

Eu perdi minha inspiração... por me limitar a elaborar lista de tarefas, registrar os compromissos na agenda, escrever textos acadêmicos e controlar, diariamente, todos os deadlines que cercam minha vida.

Eu perdi minha inspiração... por esquecer a beleza daquele pôr do sol e o prazer do chimarrão.

Eu perdi minha inspiração... enquanto cegamente eu buscava ideias e soluções para meus intermináveis problemas de pesquisa.

Eu perdi minha inspiração... quando você se calou e fechou a porta diante dos meus olhos.

Sem música, sem poesia, sem vinho, sem rosas...

Sinto também que perdi meus encantos e, a parte de mim que te encantava.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Vai acontecer...


Mais uma vez eu estava atrasada para a natação! Rapidamente coloquei o maiô e, ainda atrapalhada pela pressa, eu tentava encaixa a touca de silicone na cabeça. Puxa aqui e ali, estica de um lado e do outro. Tinha a sensação de que quanto mais eu puxava, mais a touca se enrolava nos meus cabelos. Foi então que uma simpática senhora me advertiu:

- Para que pressa, se vai acontecer?!

Eu retribui com um sorriso amarelo, pois naquele momento não entendi a sabedoria daquelas palavras. Enquanto dava as primeiras braçadas desajeitadas, eu comecei a refletir sobre aquela frase que ainda martelava na minha cabeça. De fato, para que pressa, se vai acontecer?

Fiquei pensando nos inúmeros equívocos que a minha pressa me levou a cometer. Sempre quis fazer mil coisas ao mesmo tempo, conhecer uma centena de lugares e ocupar pelo menos três espaços ao mesmo tempo. Mas de que isso adiantou?

Para aproveitar a beleza da paisagem e os efêmeros bons momentos da vida, é preciso olhar sereno e coração tranquilo.  Vai acontecer... Eu vou para Nova Iorque, eu vou encontrar a minha centena de amigos (um de cada vez) e um amor para a vida. 

Por enquanto, sigo treinando uma braçada mais lenta para alcançar o outro lado da piscina. Quase sem fôlego, eu penso: vai acontecer...

sábado, 3 de março de 2012

Estrela...


Algumas pessoas passam pelas nossas vidas como estrelas cadentes. 
Mudam de rotina, de cidade, de hábitos, de vida. 
Deixam seu brilho e seguem para iluminar outros olhares. 
Foi assim que ele passou pela minha vida. 
Um colega, um amigo, um homem admirável com suas dores e dilemas. 
Caetano Veloso tinha razão: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que se é!"
Pessoas com sentidos aguçados tem seus sabores mais acentuados...
E um coração partido pode levar a reações pouco prováveis.
Então, a sua estrela se apagou aos meus olhos para manter o brilho na memória de muitos.

Estrela, Estrela (Vitor Ramil)
Estrela, estrela / Como ser assim / Tão só, tão só / E nunca sofrer
Brilhar, brilhar / Quase sem querer / Deixar, deixar / Ser o que se é
No corpo nu / Da constelação / Estás, estás / Sobre uma das mãos
E vais e vens / Como um lampião / Ao vento frio / De um lugar qualquer
É bom saber / Que és parte de mim / Assim como és / Parte das manhãs
Melhor, melhor / É poder gozar / Da paz, da paz / Que trazes aqui
Eu canto, eu canto / Por poder te ver / No céu, no céu / Como um balão
Eu canto e sei / Que também me vês / Aqui, aqui / Com essa canção